Vivi no seio familiar, em relatos em primeira mão, o entusiasmo estudantil com a candidatura do general Humberto Delgado e, por observação directa, os avanços e recuos, no meio castrense, do 25 de Abril, 11 de Março e 25 de Novembro. Lembro-me de ir com meus progenitores a todos os actos eleitorais na década de 1970, pós-25 de Abril, nomeadamente para a Assembleia Constituinte e para todas as que se seguiram.
Lembro-me bem do espírito, do debate acalorado, da busca da concretização de um futuro que se queria com mais e melhores oportunidades. Lembro-me da participação massiva dos portugueses. E do dever que incumbe a todos os cidadãos de se empenharem no processo democrático e na participação eleitoral. Talvez por isto tudo, nunca deixei de votar, para a escolha dos nossos representantes políticos. Comportamento este que tento estender às associações de qualquer género de que sou membro.
Votar em liberdade, esse bem precioso e que em tantas paragens é uma miragem. Votar, esse direito, que a não ser exercido, coloca nas mãos de minorias bem organizadas a escolha de caminhos que tantos, por ausência, por abstenção, não poderão contrariar. E não vale a pena levar a sério o argumento populista de que todos os políticos são iguais. Pois eles são iguais a nós, que neles votamos! Reflectem as nossas imperfeições enquanto seres humanos, as nossas dúvidas e certezas. Os nossos valores. Eles são o espelho do nosso empenho, da nossa participação cívica. E como em todos os grupos humanos, vários de entre os políticos são extraordinários em dedicação à causa pública.
Para estas eleições legislativas tenho apenas um desejo, o de que o meu voto ajude a valorizar o ser humano e os trabalhadores. Convido os leitores, em conjunto, a redobrarmos os esforços para que nesta legislatura este seja um país mais amigável para quem trabalha. Para que quem se esforça e se valoriza seja recompensado. Para que Portugal não seja apenas amigo dos residentes não habituais, esquecendo que um país e uma sociedade são feitos com os residentes. Para que os despedimentos colectivos, amiúde o reflexo de falta de ética dos dirigentes ou da incapacidade da gestão, requeiram fundamentação sólida e sejam menos baratos por quem por eles opta.
Para que os trabalhadores consigam impugnar um despedimento injusto, sem que isso signifique abdicar de condições financeiras mínimas de dignidade. Para que se valorize cada vez mais a contratação colectiva. Para que o financiamento da Segurança Social incida também sobre o valor acrescentado bruto e não penalize quem mais postos de trabalho cria. Para que existam maiores incentivos à contratação de desempregados de longa duração. Para que nas maiores empresas os representantes dos trabalhadores marquem presença nos órgãos de supervisão, como acontece nas democracias do Norte da Europa.
Portanto, um voto. O meu. O do leitor. E um desejo: que as pessoas sejam o alfa e o ómega da actuação dos nossos representantes políticos.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.