O aumento do número de infetados na zona de Lisboa tem sido motivo de preocupação generalizada, quer pelo disparo de casos e pessoas envolvidas, quer pelo impacto na economia e na imagem externa do país. Parece ser um lugar-comum referir esta preocupação, contudo, as autoridades sanitárias e principalmente o Governo deviam assumir a situação problemática e regressar ao apelo de março quando aqui se manifestou o crescimento da Covid-19.

A declaração do Presidente da Câmara de Lisboa é sintomática de afastar a responsabilidade da ministra da Saúde e do Governo, antecipando a defesa do primeiro-ministro. Repentinamente, iniciou-se um processo de sacudir o capote de responsabilidades para cima da DGS. Como se não houvesse intervenção e controlo político da situação atual. As conferências de imprensa ou as sessões no Infarmed passaram a ser fardos para os membros do Governo e sucedem-se as declarações de culpabilização de técnicos. O costume. Quando se falha, a responsabilidade é dos soldados. Quando se acerta, a condecoração é para a chefia.

As pessoas estão cansadas da doença, do confinamento e isolamento. Os anúncios de que a doença continuará a estar presente sucedem-se e até pode piorar. O que obriga a redobrado combate com convicção em tempo útil e eficácia e não em jogos de empurra responsabilidade. Os números na região da Grande Lisboa exigem uma intervenção energética, contundente, com alocação diversificada de meios que contenham as cadeias de transmissão que entram na comunidade e não estão apenas confinados a lares, fábricas ou bairros.

A mensagem exigida não é técnica. Tem de ser política e com ruído, com alerta forte, de conteúdo direto e sem rodeios. Que não permita festejos nem derrapagens, de modo a travar novos casos. A comparação interna por regiões ou setores é irrelevante e surge como paliativo argumentativo. O importante é agir, aplacar e reduzir casos. Sem preocupações ou condicionantes de ordem política. O que está em causa é a dimensão da saúde pública, ou seja, todos. Quem politizou a situação foi o Governo ao criar membros do Governo regionais que falharam na ação.

A evolução dos afetados na Área Metropolitana de Lisboa exige envolvimento, coordenação e fiscalização com a participação do Governo e responsáveis dos municípios, principalmente dos cinco mais afetados. Uma atitude proativa implica um plano específico, com avisos individuais a todas as residências e presença ativa nos transportes públicos. Avisos de isolamento voluntário em casos de proximidade de contacto, distanciamento social presencial e controlo imediato em caso de sintomas. Implica colocar controladores temporariamente nos transportes para verificação de lotação e regras.

A abordagem à progressão da Covid-19 deve ser assumida de forma preocupada e conscienciosa. Se não for travada agora terá consequências dramáticas nos meses seguintes, com expressão maior no inverno. É preciso ter coragem para assumir este combate, porque travamos uma guerra. Não se trata de combate político e de sobrevivência socialista.