1 – Criticar-se a banca  e o sistema bancário tem sido recorrente nos últimos anos. A verdade é que a banca tem perdido centenas de milhões de euros em negócios com contratos de financiamento que acabam em incumprimentos definitivos e que obriga o setor a criar reservas e, como vimos há uns anos, a solicitar ajudas públicas. Ainda hoje é recorrente vermos nas contas finais dos bancos o elevado nível de NPL e que mais não são do que incumprimentos quase sempre insanáveis. Curiosamente, ou não, são os grandes devedores que criam toda a turbulência porque as pequenas economias ou os financiamentos hipotecários são uma preocupação das famílias e dos pequenos empresários e que surgem quando há grandes dificuldades em toda a economia. Fora desses picos depressivos são os primeiros a querer regularizar as situações.

E aquilo que ao longo da última geração foi possível perceber sobre o negócio da banca é que as instituições financeiras fizeram ajustamentos, digitalizaram-se, reduziram espaços físicos, dispensaram pessoas mas, em comum, têm algo estranho: Deixaram de apreciar negócios para apreciar garantias. Ou seja, tem crédito quem tiver garantias. Não se olha para os negócios e a banca acaba por empurrar a economia nacional para determinado tipo de negócios que mesmo sem viabilidade mas que apresentam garantias, são financiados. Dizia-nos o ex-gestor bancário Filipe Pinhal que na banca anterior ao “25 de Abril” não mais de 10% da carteira tinha garantias associadas, apreciava-se a qualidade dos projetos e a qualidade dos empresários. Isso, hoje, está fora de questão. Venham as garantias. Dizia o mesmo gestor que 70% do crédito está colaterizado com garantias hipotecárias e outras. Claro que tudo resulta de imposições, sobretudo daquelas que quiseram ir além da Troika. Precisaram de garantias e os algoritmos ajudam nas contas. Hoje assistimos ao aparecimento de um novo tipo de bancos digitais e que para o negócio se baseiam exclusivamente naquilo que é os rendimentos e naquilo que os clientes têm de garantias associadas. A banca pela importância que tem não quer correr riscos e, desta forma, desvirtua a sua função. A banca está causticada por dezenas de anos a emprestar a gestores sem qualidade e sem capacidade de gerar fundos capazes de devolver dinheiro e juros. A banca também sofreu com os financiamentos a pedido, sobretudo de políticos, e que resultaram em mais incumprimentos.

No final sofrem os jovens sem capacidade para seguirem em frente com projetos, casa ou família porque não têm apoios. Os pais esgotaram tudo  no tempo das facilidades. Perdemos as oportunidades do dinheiro barato e hoje temos juros a subir, uma inflação de dois dígitos e sem soluções que não seja os de escola: Subida dos juros e travagem a fundo na economia. Diriam os menos penalizados que estes são os ciclos económicos e dirão os mais fustigados que entraram no tempo errado na economia.

2 – “Euribor em máximos de 10 anso”, ou “juros do credito à habitação ultrapassam os 2%”, ou ainda: “Teremos de nos habituar a juros de 3%” ou não menos relevante: “Lisboa é a segunda cidade mas cara do sul da Europa para aquisição de habitação”. Estes são títulos que assustam e que têm de ser contextualizados. Os juros sobem num movimento natural e as casas estão caras enquanto a procura for superior à oferta. O país continua a atrair estrangeiros e são estes que fazem o preço da habitação. A classe média continua a não conseguir comprar ou arrendar uma habitação em condições.