Vivemos num mundo extraordinariamente complexo, onde sistemas de relações intrincáveis se multiplicam dia após dia, transformando-se num inexorável e gigantesco desafio quando o tema é o desenvolvimento responsável para com o ambiente e sociedade. Para ajudar a desconstruir essa complexidade em ações tangíveis, materializáveis no tempo e espaço e sensíveis às diferentes realidades, é necessário comunicar.

No entanto, a sustentabilidade é um assunto amplamente vago e altamente subjetivo enquanto resultado de uma construção social. A divergência de opiniões entre sociedade e comunidade científica, a existência de diferentes níveis de entendimento e premissas sobre a relação entre seres humanos e meio ambiente, os diferentes conceitos de sociedade e interesses existentes, a diversidade de audiências, a falta de curadoria especializada num contexto de democratização da informação, a realidade distante e impessoal dos temas da sustentabilidade, são apenas alguns dos obstáculos à comunicação e ao envolvimento das partes interessadas.

Nesse sentido, é necessário um processo de comunicação mais participativo, dinâmico e progressivo, cujo objetivo é o de introduzir o entendimento do tema da relação entre seres humanos e meio ambiente no discurso social, através da compreensão mútua sobre o futuro desenvolvimento da sociedade – a Comunicação para a Sustentabilidade. Mais do que comunicar “de” ou “sobre” sustentabilidade, este tipo de comunicação foca-se em encontrar uma direção, um caminho e uma solução “para” a sustentabilidade, a qual só se constrói com a participação ativa dos diferentes atores sociais.

A Comunicação para a Sustentabilidade agrega o conhecimento e metodologia de várias disciplinas, desde a comunicação ambiental, alterações climáticas e risco, com o objetivo de normalizar o(s) tema(s) da sustentabilidade e os seus desafios (narrativas) – “a resposta da sociedade em como adaptar-se e ajustar-se à sustentabilidade, está ligada à forma como as pessoas a compreendem” (Godemann J.2021).

A pandemia da Covid-19 tem despertado nas pessoas uma maior consciência sobre a sua pegada individual e degradação da relação entre os seres humanos e planeta. De acordo com o EY Future Consumer Index (Fevereiro de 2021), 64% dos inquiridos planeia prestar mais atenção ao impacto ambiental do que consomem e 56% considera o impacto ambiental de um produto nas suas decisões de compra. Contudo, há ainda obstáculos claros no processo de conversão de atitudes em comportamentos, nomeadamente a questão do preço, o acesso a informação sobre produtos e serviços e a dificuldade em confirmar a veracidade das alegações das marcas sobre o tema da sustentabilidade.

Com o aumento da pressão na União Europeia para a adoção de uma agenda mais sustentável na recuperação económica, as empresas veem-se obrigadas a assumir compromissos mais ambiciosos com o objetivo de atingir as metas estabelecidas nas Agendas 2030 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas) e 2050 (Acordo de Paris). Neste caminho, aquelas que ousarem desafiar o tipo de comunicação unilateral para abraçar um tipo de comunicação mais envolvente e atento às diferentes dinâmicas da sociedade, darão certamente um forte contributo para a construção da agenda sustentável. É neste contexto que a Comunicação para a Sustentabilidade assume um papel de relevância, facilitando a interação entre empresa e stakeholders, atribuindo aos últimos um papel na construção de uma relação de confiança, sólida, assente num processo transparente e conhecedor, mas, acima de tudo, de cocriação de um futuro que é de todos.