Um artigo do “Expresso”, de 25 de Novembro, chama a atenção para o facto de a Comissão Europeia prever que a Roménia ultrapasse Portugal em PIB per capita já em 2024, quando em 2000 aquele país era o mais pobre da União Europeia (UE).
Enquanto a Roménia deverá subir de 26,4% para 79,0% da média UE27, o nosso país deverá ver a sua posição degradar-se, de 85,3% para 78,8%, o que constitui uma dupla vergonha. Por nem sequer conseguirmos manter a posição que tínhamos no início do século e por sermos ultrapassados por um Estado-membro em que, até há pouco, quase ninguém acreditava que fosse capaz de tamanha evolução, tal era o seu atraso.
Para além disso, convém ter presente que a Hungria (78,5%), a Polónia (76,9%), a Croácia (75,1%) e a Letónia (73,5%) estão a chegar-nos aos calcanhares, pelo que estamos a caminho de sermos ultrapassados várias vezes nos próximos anos.
Esta estagnação económica sente-se no dia-a-dia nos salários que não sobem e nas contas públicas em permanente aflição. Apesar da gravidade do problema, o Governo nem sequer o valoriza, muito menos se empenha em encontrar soluções para o resolver.
Um outro artigo, do “Público” de 26 de Novembro, tem um título esclarecedor “Portugal só têm três comunidades de energia e 170 esperam autorização”. O regime de comunidade de energia renovável (CER) existe desde Outubro de 2019, mas a sua concretização está mais do que entupida, há projectos à espera de autorização há mais de um ano.
Há tanto tempo que as alterações climáticas pedem o aumento da energia renovável e, desde há nove meses, com a invasão da Ucrânia, com a explosão dos preços da energia e os problemas de abastecimento, tornou-se ainda mais urgente caminhar na substituição de fontes de energia e na auto-suficiência energética, em que Portugal está pior do que média da UE, que, ela própria está numa má posição.
O Governo tem acarinhado, talvez mais por folclore do que por convicção, as energias renováveis, pelo que este seria uma área que deveria ter a máxima prioridade. Tudo o resto poderia estar uma calamidade, mas um segmento como este, querido pelo executivo e tornado mais urgente com a guerra, deveria estar no topo da lista de prioridades.
No entanto, o que vemos, é um desastre inacreditável. Pior do que o ficamos a saber é o que daqui se deduz. Se aqui, onde haveria todas as razões para ter a máxima preocupação com a resolução dos problemas, se percebe o desleixo, a falta de competência, o que se pode esperar nas áreas que não ocupam as primeiras páginas dos jornais?
Isto reforça a ideia de que a administração pública é um grave obstáculo ao desenvolvimento do país e uma das razões pelas quais a Roménia nos ultrapassou. Há queixas de atraso no PRR e o Governo vem dizer que a lentidão é que é boa. A conclusão final só pode ser uma: não há qualquer mistério no definhar português, são erros em cima de erros, ainda por cima corrigíveis.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.