O governo chinês tem plena consciência da sua responsabilidade nas dificuldades que a Evergrande atravessa, mas também compreende os riscos associados ao colapso da empresa e do “travão a fundo” no setor imobiliário.

Pequim foi responsável, numa primeira fase, por permitir a formação de grandes conglomerados empresariais que utilizaram dívida como atalho para crescimentos espetaculares. Por outro lado, a população foi orientada no sentido de constituir poupança através da habitação, com o setor imobiliário a representar em 2020 mais de 25% do PIB da segunda maior economia do mundo.

Há alguns meses, as grandes empresas de promoção imobiliária foram confrontadas com alterações regulatórias que as obrigariam a ter bastante menos alavancagem e mais liquidez, inviabilizando o seu modelo de negócio num contexto de queda dos preços das casas. Há já algum tempo que a China tem vindo a assumir uma atitude mais intervencionista, coerente com os objetivos de um crescimento mais inclusivo, com atuação enérgica também em outros setores como as fintech, educação e jogo.

Sucintamente, os principais riscos são: a) contágio da crise para outras empresas ligadas ao setor imobiliário; b) pressão sobre os bancos e empresas de shadow-banking; c) tensão social pelo impacto das perdas em investidores locais; d) menor atratividade como destino de investimento estrangeiro e e) como já escrevíamos aqui há dois meses, a deriva regulatória poderá constituir uma ameaça à economia global devido ao abrandamento da atividade na China.

O mais provável é que Pequim liquide a Evergrande, mas tente evitar o escalar da situação. As probabilidades ainda jogam a favor do governo chinês tendo em conta as ferramentas que se encontram ao seu dispor, nomeadamente as mais autocráticas, mas a História mostra-nos que o setor imobiliário pode espoletar uma crise mais ampla.