José Pedro Aguiar-Branco é um histórico do PSD e com esse chapéu participou na reunião do Conselho Nacional laranja. O presidente da Assembleia da República poderia ter-se controlado nas declarações que fez à porta fechada. Em vez disso, atirou rasteirinho: “Pedro Nuno Santos fez pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos.”
Não foi o socialista que foi atingido, foi o respeito institucional que levou uma forte canelada. Aguiar- Branco deveria ter explicações de conduta ao speaker do parlamento britânico. Agora já vai tarde, imitou Augusto Santos Silva. Ora bem, na ausência de um congresso, o presidente do PSD juntou os fiéis para receber o apoio indispensável. A unanimidade foi quase total, apenas uma voz isolada e sem peso pediu alguma autocrítica, um desejo simples acolhido com apupos. Quanto ao resto, a violência verbal contra o secretário-geral do PS (“menino do papa” e “charlatão”) é o habitual em momentos de tensão máxima e à porta fechada; ainda assim, algum decoro seria ajuizado.
A democracia levou demasiados pontapés esta semana e, pelo que se ouve, a ideia é ir ladeira abaixo até.. até André Ventura? Nesta atmosfera de perfídia e faroeste, Luís Montenegro ainda vai a tempo de fazer algum esforço para puxar a conversa nacional para cima. Não é essa, afinal, uma das responsabilidades do primeiro-ministro? Pedro Nuno Santos deveria fazer o mesmo. No entanto, a ordem em quase todos os partidos é para atirar a matar.
Pode Montenegro queixar-se dos abusos a que foi sujeito se não tem freio nas tropas? Pode Pedro Nuno Santos chorar lágrimas de crocodilo? O líder do PSD já pisou várias linhas éticas (não judiciais) que ficam aquém da sua governação – já é demais. As legislativas de maio serão também um teste ao carácter dos líderes políticos. O país não procura santos, deve rejeitar mártires e tem de castigar todos os populistas.