Desde que a pandemia começou que se tem tornado clara a importância de existir uma coesão na articulação dos serviços de saúde, não só no que se refere às mensagens transmitidas, como à forma de gerir os recursos físicos e humanos e garantir uma referenciação que permita maximizar os cuidados da população como um todo. Muito tem sido falado sobre os profissionais de saúde, principais atores na linha da frente desta batalha que se tem vindo a travar contra uma pandemia que chegou sem aviso e se instalou por mais tempo do que todos imaginámos, mas não faltará o reconhecimento dos mesmos? Não faltará uma compensação efetiva por todo o esforço que têm feito nestes já largos meses de desgaste diário e constante? Não será importante que o modelo em que operam seja revisto e melhorado para que se verifique uma mudança de fundo na gestão dos meios físicos e humanos e, por conseguinte, da rede de referenciação?
Passada a fase de reação em estado de emergência, há que parar e planear uma melhor gestão da rede de cuidados de saúde, para se conseguir que uma melhor governação e articulação da rede minimize os pontos de rutura e se concentre nos profissionais esgotados, permitindo uma recuperação para a próxima vaga bem como o alento de uma revisão e melhoria da articulação entre os diferentes atores da rede. Ao melhorar a articulação da rede, entre unidades de cuidados de saúde e dentro de cada uma das unidades na vertente de gestão dos profissionais, não estaremos a potenciar a capacidade de resposta geral das instituições e dos seus profissionais? Mas, como gerir profissionais esgotados e pedir-lhes mais uns esforços até que as vacinas comecem a ter efeito e permitam trazer a tão desejada “luz ao fundo do túnel”? Como conseguir dar algum alento e motivação nesta fase de desgaste?
O enfoque nas revisões de escalas e na criação de scorecards dos profissionais de saúde, que permitam, para além de agradecimentos públicos, uma definição de medidas práticas de gestão de esforço e ajudas monetárias para que os profissionais consigam planear melhor os meses de desgaste que ainda se anteveem bem como o compromisso de criação de um novo modelo de gestão dos profissionais de saúde, não poderá ser uma fonte de motivação e não deverá ser uma prioridade? A construção de um modelo eficiente de gestão dos profissionais de saúde que englobe diferentes vetores como a formação, a forma como são organizadas as escalas e formas de descanso que permitam um equilíbrio e um balanceamento de esforço e stress efetivo, as formas de remuneração, não apenas a remuneração base, mas também em componentes variáveis que possam compensar esforços adicionais (e muitas vezes sobre-humanos), e que contemple também componentes de suporte emocional, não será fundamental para que se consiga contribuir para o bem estar dos profissionais e por conseguinte para a sustentabilidade do SNS?
A articulação desse modelo como parte de uma revisão profunda da rede de referenciação e dos modelos de governação não deveriam estar no centro da agenda durante e para além da pandemia? Não será uma prioridade endereçar estes temas e colocar no centro do sistema não apenas os pacientes, mas também a rede de cuidados e os seus principais atores, todos os profissionais de saúde? Por um Serviço Nacional de Saúde melhor organizado e com profissionais de saúde mais acompanhados e melhor recompensados. Por mais saúde para todos nós.