“Fique em casa”. Esta tem sido a palavra de ordem das últimas semanas, e deverá continuar a sê-lo por vários meses. É a medida certa, todos os sabemos: a melhor forma de individualmente contribuirmos para o bem comum nesta fase. É também uma medida difícil de suportar, porque o confinamento e o isolamento social são contrários à natureza humana. Precisamos de interagir. Como escreveu John Donne, há quase 400 anos, “nenhum homem é uma ilha”.

Ironicamente, a internet, invenção que tantas vezes tem sido – corretamente – apontada como causadora de isolamento quando usada em excesso, é por estes dias a nossa principal janela para o mundo. É através dela que, em diversos setores, se continua a trabalhar com razoável eficácia, e é graças a ela que familiares e amigos se vão “vendo”, através da partilha de fotografias ou por videochamada. Imaginar esta pandemia antes da massificação da Internet é imaginar uma realidade em que os dias seriam provavelmente mais sombrios.

Uma das consequências desta crise está a ser a aceleração do aproveitamento de todas as potencialidades da rede. Durante muito tempo, fizeram-se “road maps” e grandes debates sobre a transição para a economia digital e aí está ela a explodir, permitindo que muitos negócios, da restauração ao retalho, se mantenham em atividade numa altura em que as lojas estão fechadas ao público.

A facilidade de circulação da informação revela-se de importância inestimável, permitindo o contacto entre decisores políticos, cientistas e especialistas de saúde pública envolvidos no combate à covid-19 nos seus respetivos países. As plataformas de streaming ajudam as famílias a ocuparem-se nos momentos mortos. Os jornais continuam a levar informação aos leitores nas suas edições digitais. Outros recursos permitem, por exemplo, ir fazendo chegar conteúdos às crianças que estão em casa sem aulas.

Há uns dias participei numa reunião do Partido Popular Europeu (PPE), por videoconferência, na qual estiveram em simultâneo quase 200 pessoas. Na semana passada realizou-se uma sessão plenária do Parlamento Europeu, em Bruxelas, acompanhada desta forma por muitos eurodeputados que não podiam estar presentes fisicamente. Em casa, as famílias organizam-se para continuarem a funcionar pelas redes. Num momento está o pai ou a mãe a reunir com os colegas de trabalho por videochamada. No outro, está o filho a tirar dúvidas com a professora de matemática. Um pouco por todo o mundo, a internet está a ajudar a que muitas vidas não fiquem em suspenso.

Não é o cenário perfeito. Queremos voltar ao trabalho, às escolas, ansiamos pelo momento em que nos sentaremos à mesa de um restaurante com um grupo de amigos ou visitaremos novamente a nossa loja preferida. Todos queremos passear livremente sem termos de manter a distância higiénica de 1,5 metros das pessoas com que nos cruzamos. Mas enquanto isso não é possível, é reconfortante saber que há uma rede que nos vai mantendo ligados.