Às portas do concelho de Lisboa, tenho várias alternativas de transportes públicos à disposição: comboio, autocarros e elétrico. Com a maior frequência de greves da CP, sou forçada a recorrer à Carris. Felizmente tenho horários flexíveis de trabalho e posso escapar à hora de ponta. Descubro que ainda é pior. Na maior parte das vezes, o autocarro chega bastante atrasado, apinhado e com passageiros a discutir com o motorista pelos atrasos inaceitáveis.
É uma viagem tensa pela via rápida enquanto se ouve a discussão e o calor não ajuda. Ainda assim, é melhor do que esperar na estação de comboio por um comboio suprimido que nunca vem. Uma vez, numa manhã que se revelou particularmente desesperante, decidi apanhar o elétrico. Sendo uma linha turística, levei uma hora a fazer o percurso, com o rosto quase esmagado pela mochila do turista que mal se conseguia mexer no meio de dezenas de turistas a regressarem de Belém com caixas de pastéis de nata.
As aplicações instaladas nos telemóveis ajudam-nos a navegar por este caos. Há uma aplicação em particular que me tenta mais do que todas as outras: a Bolt. É o último recurso quando tudo falha. Nesta fase em que muitos dos transportes se encontram afetados por greves, obras ou intervalos de tempo demasiado grandes, é assombroso como Lisboa ainda não surge nas listas de piores cidades para visitar. O pastel de natal não é assim tão bom para fazer os turistas esquecer a experiência excruciante de visitar esta cidade sem recurso a carro. E mesmo de carro, falamos de trânsito insuportável, numa difícil convivência com os adeptos de mobilidade suave.
Somos rápidos a adaptarmo-nos a esta nova normalidade, mas não conseguimos evitar a sensação de desgaste da nossa qualidade de vida. A sensação de viver numa cidade que não consegue absorver tantas pessoas com tantos interesses diferentes.
Daqui a menos de um mês, Lisboa irá acolher a Jornada Mundial da Juventude e não foi revelado ainda um plano de mobilidade. Além da presença do Papa, o evento irá contar com o Festival da Juventude onde irão decorrer mais de 480 eventos na área metropolitana de Lisboa.
Garantir que mais de um milhão de visitantes consiga circular em segurança na cidade, em conjunto com a população residente, será um dos maiores desafios de Lisboa. Infelizmente, a CML tem sido exímia em chutar responsabilidades para o Governo, mas a dimensão do evento é grande demais para que se possam assacar culpas. Precisamos de mais garantias e planos eficientes. Nem tudo é uma questão de fé.