A eleição de Donald Trump é o nosso reflexo ao espelho. Adoramos coisas giras, caniches no Insta, disparates no TikTok, políticos mentirosos e milionários que veneram o silicone desmesurado. A calamidade é grande só porque o é. Eleger um ignorante para chefe de turma – quem não elegeu – não faz mal ao mundo. Escolher um aldrabão, homofóbico e machista (ou seja, de fraca inteligência e sensibilidade) exige um uivo. Os mercados animam-se, porque o espírito animal gosta, prospera na selva, gosta do “ganância é bom”, mesmo quando arruína tantos e os mais frágeis.
Teimamos em não entender o mundo em que vivemos e os riscos que corremos. Por trás desta hecatombe está Musk e a tribo digital – só uma parte dela – que vão tentar vigiar-nos mais e explorar-nos mais. O capitalismo não é isto, a economia de mercado não é esta gente. Isto é uma caricatura do pior que nós, pessoas, podemos e conseguimos ser. Virá a inevitável desregulação, mas não da que precisamos em Portugal. Virá confusão e arbítrio, o que terá mais riscos do que temos capacidade para enfrentar. Algum equilíbrio se manterá, claro. A terra é redonda e somos resistentes. Trump não é solista nem está sozinho.
Esta semana, a União Europeia já deixou bem claro que vai aumentar mais ainda o dinheiro gasto em defesa. Exceto quem as negoceia, ninguém de bom senso defende o armamento, mas agora tem um inimigo (Putin), um lunático adversário (Trump), o Médio Oriente em chamas e as classes médias sem mapa, bússola ou sequer geografia. A salvação terá de vir da economia, a boa economia.