A qualquer governo exige-se capacidade de decisão num processo permanente de realizar o seu programa, adotando no dia a dia posições coerentes de escolha e habilidade de visão estratégica pensando no futuro de todos, assente na capacidade de saber escolher e decidir quando deve dizer sim e quando deve saber dizer não!

Para além dos programas que mudam consoante as conjunturas, a responsabilidade dos resultados de um executivo começa na sua liderança. Liderança essa que, para ser responsável, deve cumprir os objetivos a que se propôs e não o que resulta da gestão à vista, que se esgota num momento esquecível. Esta perspetiva é desmentida pelo comportamento do eleitor que se preocupa com a resposta e os resultados imediatos que satisfaçam as suas necessidades, mais do que qualquer definição de caminhos duradouros de desenvolvimento de políticas a pensar nas gerações futuras. Para isso deve servir o governo.

A consistência de uma liderança assume o futuro. E o julgamento dos líderes tem de observar esta perspetiva de ver mais à frente. Como disse alguém recentemente, de forma surpreendente e cinematográfica, ver “para o infinito e mais além”.

A “nossa” dívida pública é a segunda mais elevada da zona euro, rondando os 125% do PIB. Um valor preocupante. Em termos absolutos, a dívida aumentou de cerca de 220 mil milhões de euros para cerca de 250 mil milhões de euros em três anos. Em termos reais e não por referência ao PIB, a dívida pública portuguesa – aquilo que os portugueses devem no período de vigência deste Governo – aumentou mais de 10%, ou seja, 30 mil milhões de euros. Não obstante termos controlado o défice, mesmo à custa das cativações do ministro Centeno, deixámos deslizar de forma preocupante aquilo que o país, logo a totalidade dos portuguese, deve.

O governo anterior chegou a sugerir que o limite da dívida fosse consagrado na Constituição para que nenhum governo fizesse demagogia com estes valores. Outros países o assumiram e sentem-se confortáveis como esse limite, que ultrapassa a conveniência de governos e de ideias de conjuntura. Na oportunidade esta proposta foi desconsiderada. Na decorrência do que um ex-primeiro-ministro dizia que a dívida não se pagava, geria-se. E nos seus melhores momentos de protesto o Bloco de Esquerda agitava o slogan do “não pagamos” (equiparando a dívida pública a movimentos estudantis de há duas décadas).

Mas este é um Bloco domesticado que já não protesta, nem reclama com convicção, perante o desejo confessado de chegar ao governo. Mas para o PS, este PS, defensor da oportunidade e também da sua conveniência, que seguramente a dívida apenas se gere. O pagamento será considerado um dia, numa próxima oportunidade. De preferência quando já não estiverem no governo e assim não tiverem de pedir sacrifícios pelos quais teriam de ser punidos.

Nesta senda, ninguém vislumbra como vai Portugal reduzir a sua dívida pública para os limites do seu compromisso europeu, para 60% do PIB. E assim neste desafio se equaciona uma capacidade de liderança e de estratégia de futuro para o país. Exige-se a responsabilidade de nos explicar como se vai trilhar este percurso de redução real da dívida. Afinal, algures, alguém vai ter de pagar.