Uma mulher doutorada em Sociologia e professora associada da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, directora da licenciatura em Ciência Política, de seu nome Isabel Estrada, foi “10.ª deputada europeia” pelo PS, por umas horitas, durante a noite eleitoral.

Acordou, se algum tempo conseguiu dormir, com o “seu lugar” tomado pelo número 2 do PCP, também uma mulher, Sandra Pereira, Investigadora no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

Neste aspecto, foi positivo. Não houve mudança de género, o que contribui para um melhor equilíbrio no PE. Para o PCP também foi uma compensação no amortecimento da queda dos resultados eleitorais.

Para Isabel Estrada, a “sua estrada” para o PE não passou de uma simples nota de agendamento.

De anormal nada se passou. É a lei da vida, ou melhor, do método de Hondt.

O PS lá ficou sem o 10º deputado. Seria, até, um pouco de exagero. O método de Hondt “portou-se bem”. Melhor sorte teve Manuel Pizarro e o Porto, não sendo a primeira vez, fica com auto-estrada directa.

Estas eleições europeias, em minha opinião, não são de fácil leitura, nem por cá nem na União Europeia (EU).

Se a nível da EU, contribuírem para um novo rearranjo/renegociação de acordos na distribuição dos cargos de topo que leve a um maior aceleramento de decisões e a recentragem no problema número um actual, ambiente/alterações climáticas, sem dúvida, significará um passo em frente. O ambiente conquistou espaço e juventude. Há que potenciá-los. O anterior figurino nada de novo acrescentava neste domínio. Será que algo de novo pode acontecer?! Será que uma mulher poderá ocupar a Presidência da Comissão?! Com bons olhos veria a dinamarquesa Vestager nesta Presidência (situação agora mais complicada). Pelo menos, deu provas, como Comissária europeia, de não temer o embate com as grandes multinacionais: “Há cinco anos que ando a trabalhar para destruir monopólios” – afirmou.

Disse ainda querer uma Comissão Europeia diferente, com 50% de mulheres e aponta o ambiente como um problema central.

No entanto, o principal posto europeu, no período que se segue, é, para mim, o da Presidência do BCE. Nuvens negras sobre a substituição de Draghi. Será “o falcão” do banco central alemão, muito crítico de Draghi?!

Por outro lado, tendo a inferir que, no actual contexto europeu, os governantes ibéricos estão a ganhar relevância política, dadas as suas experiências bem-sucedidas na governação recente dos seus países.

Pelo menos, já marcaram pontos na definição de critérios de escolha do Presidente da Comissão Europeia, o que levará a afastar o candidato do Partido Popular Europeu – Manfred Weber – por falta de experiência governativa. Até à data só tinha desempenhado cargos políticos, mas é alemão. Muito peso e do partido de Merkel. Importante este aspecto, independentemente do candidato não ser pessoa “grata” a Portugal. Foi defensor de penalizações ao nosso país quando já nos encontrávamos em fase de “recuperação” pós Passos Coelho.

Mas o critério do afastamento em si é bem justificável.

Enfim, esperemos para ver como vão ficar os ovos no cesto da EU!!.

A nível nacional, já serviram para Marcelo Rebelo de Sousa relançar o processo de candidatura a um segundo e último mandato. Que pena, pensarão alguns dos seus devotos, a Constituição só permitir dois mandatos!!! Caso contrário, ainda “se fabricariam”, a prazo, razões para lançamento de um terceiro …

Mas o que vem dizer Marcelo Rebelo de Sousa em inglês?

Que a direita portuguesa está em queda, que o PSD e o CDS estão de costas voltadas!!. Até aqui toda a gente chega. Nada de deslumbrante.

De deslumbrante, é o Presidente assumir a liderança da oposição da direita contra a esquerda, uma situação desadequada ao seu estatuto “de equilibrador” e de sentido de Estado O papel de equilíbrio é entre o que existe e não criando uma “coisa” nova. Marcelo quer recriar essa outra parte onde segundo ele se manifesta a crise de direita para “reequilibrar” a política portuguesa.

Assunção Cristas jogou muito alto em palavras. Com jeito já não chegava só a primeiro-ministro…. Parecia-lhe tudo tão fácil…. De forma leviana levava a candeia tão à frente que as veleidades a colocariam na rampa para Belém.

Mas afinal … tamanhas ambições de nada lhe valeu. Nem Nuno Melo piscar os olhos ao VOX – partido franquista de Espanha, para abafar o Chega e outros semelhantes. Afinal nada chegou, nem aconchegou. Um grande estatelanço.

E Rio apertado por todos os lados, não conseguiu despertar. Nada trouxe ao debate e a agressividade de Paulo Rangel piorou a situação. Um vazio de ideias. “Perdeu” uma qualidade que muitos lhe apontavam. “Um homem de palavra”. Até isto se esvaziou. Agora, anda meio confuso. Já parece Paulo Rangel.

E, neste contexto, entra Marcelo, “o salvador” da direita em tempo de crise.

Entra, para um maior equilíbrio político do País. É o seu argumento.

Terá convencido muita gente ou perdeu credibilidade?! Ou só convenceu os convencidos?! Onde ficou o seu sentido de Estado?

Mas afinal quais as linhas políticas de Marcelo? Mais privatização da saúde (uma saúde para ricos, outra para pobres) e do ensino? Menos estado social? A reversão do passe social? Sim porque a direita não o aprovou. Também vai entrar na demagogia da “carga fiscal”?

Vamos pensar agora um outro cenário. Imaginar que a crise era na esquerda.

Que atitude tomaria o actual Presidente da República “nessa sua linha do equilíbrio”?

Iria equilibrar pela esquerda?

Não creio, aliás de forma velada e inteligente ao longo do seu mandato em pontos cruciais assumiu sempre as suas posições de origem de direita.

A situação para mim mais gritante foi a precipitação quanto à Lei de Bases da Saúde.

Antes de, no Parlamento, se começarem a definir posições, manifestou-se logo no sentido de vetar uma lei a que a direita não desse o seu aval e assim pressionou o PS a recuar. Marcelo aposta na privatização da saúde, que a revisão anterior pela direita, tanto tem impulsionado.

Quem admitia uma certa neutralidade do Presidente deve andar meio confuso!

Seria mais transparente assumir a candidatura pura e dura a um segundo mandato e não dramatizar a crise da direita em Portugal para esse fim.

Até parece que houve um assalto ilegal à governação do País!!.

 

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia