Dia 25 desci a Avenida. Fi-lo, como todos e com todos, para celebrar as conquistas dos últimos 50 anos, começando pela que me permite estar aqui a escrever sem amarras. Enquanto mulher, tenho ainda sérias dúvidas que tal fosse plausível se o contexto fosse outro.

As inúmeras reivindicações que hoje me permito ter do país onde vivo são a consequência dos avanços consentidos pela vitória da democracia. E são, sobretudo, a consequência de termos aquiescido que iríamos exigir melhorar, melhorar sempre.

Hoje saímos, com razão, para a rua para reclamar uma solução para o problema da habitação, clamando por políticas que a tornem acessível a todos. Esta atitude contrasta com aquilo que era aceitável no início dos anos 70 – retratado, por exemplo, nas fotografias de bairros de lata dos arredores de Lisboa colecionadas nos arquivos Ephemera de José Pacheco Pereira – e que procuramos erradicar.

Hoje, médicos e enfermeiros protestam de diferentes maneiras, exigindo melhores salários e condições de trabalho e reivindicando a melhora do Sistema Nacional de Saúde. O SNS e a interiorização de que a saúde é um direito de todos são outras das conquistas da revolução. E também, neste domínio, o contraste com o que se passava há cinquenta anos é flagrante. Nos anos 70, a esperança de vida rondava os 67 anos de idade e o acesso à medicina não era generalizado, havendo quem nunca tivesse ido a uma consulta.

Os tão discutidos problemas de sustentabilidade da Segurança Social são mais um resultado desta conquista de longevidade e qualidade de vida. E o sistema de Segurança Social é outra das aquisições do 25 de Abril. Como são os 14 salários anuais.

Em 1978, estavam matriculados no ensino superior 81.582 estudantes, um número que se compara com os 433.217 estudantes que, em 2022, com uma população jovem em regressão, frequentavam este nível de ensino. Temos assim 48% de diplomados jovens (entre os 25 e os 34 anos), uma das maiores percentagens da Europa.

A adesão à Comunidade Económica Europeia, que a maioria da população encara como positiva, é mais uma consequência da democracia. O Portugal da ditadura dizia-se autárcico, apesar da adesão à EFTA. O Portugal democrático quis-se afirmar europeu.

Podemos “dar muitas na ferradura”, claro. Nem tudo foi nem é perfeito. E essa possibilidade de criticar e exigir é talvez a maior conquista da democracia. 50 anos depois queremos mais e melhor. E batemo-nos por isso. Acho que é esse o significado da expressão: 25 de Abril, sempre!