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Uma outra forma de política: cantora israelita colabora com artistas iranianos

Liraz Charhi trabalhou secretamente com músicos iranianos e prepara-se agora para lançar um álbum que é o resultado dessa colaboração ‘encriptada’.
8 Outubro 2020, 18h00

A cantora israelita (de ascendência persa) Liraz Charhi passou os últimos anos a colaborar com artistas iranianos por meio de aplicativos de mensagens criptografadas para realizar um sonho de longa data: trabalhar com pessoas que moram no país de origem dos seus pais. O álbum será lançado no próximo mês, segundo avança o jornal britânico The Guardian.

Liraz Charhi admitiu em entrevista que chegou a temer pelas vidas daqueles que trabalharam com ela no Irão, um pais odiado por Israel (e vice-versa), que no início do ano aprovou uma lei tornando ilegal qualquer tipo de colaboração com o Estado judeu.

“Tecnicamente, foi muito difícil”, disse Charhi, de 42 anos, “mas, emocionalmente, era muito mais difícil. Eu sentia, noite após noite, que estava a fazer algo de mau e que as pessoas que colaboravam comigo poderiam ser presas”.

Charhi contatou artistas iranianos online, procurando cantores, compositores e músicos de instrumentos tradicionais. Encontrou muitos ansiosos para trabalhar com ela, conta, embora alguns insistissem em que os seus nomes verdadeiros fossem ocultados. Outros que a princípio concordaram na colaboração acabaram mais tarde por desistir do projeto, tendo alguns chegado mesmo a mudar as suas identidades nas redes sociais.

Um desses compositores iranianos também falou, sob anonimato, ao The Guardian, tendo dito estar ciente dos riscos que correu ao trabalhar no álbum, para o qual escreveu e cantou. “Sei que é perigoso trabalhar neste projeto”, disse, “mas nós somos apenas pessoas normais”.

Os músicos usaram aplicativos de mensagens criptografadas, como o Telegram, para comunicarem, e o dinheiro do projeto foi transferido para outros países, como Reino Unido e a Turquia, antes de chegar ao Irão.

O resultado, o seu segundo álbum em persa, ‘Zan’ (Mulher), será lançado pela Glitterbeat Records em 13 de novembro e inclui temas de electro-dance e remixes do pop iraniano dos anos 1970. Um videoclipe da música ‘Liraz – Injah’, que está incluído neste próximo álbum, já circula no YouTube.

Os pais de Charhi emigraram para Israel em 1970, quando o país mantinha fortes relações com o Irão e o Xá da Pérsia – um dos diletos amigos dos Estados Unidos na região. Uma década depois, tudo mudou com a Revolução Islâmica de 1979. Hoje, os dois países estão envolvidos num confronto militar latente (e por vezes mais que isso).

“Os meus pais lutaram para serem israelitas, deixando as suas raízes para trás”, disse Charhi na entrevista, mas “continuaram a agir como iranianos”. Charhi cresceu falando persa em casa. O seu primeiro álbum, ‘Naz’, foi um pequeno sucesso no Irão – país onde nunca foi. A cantora também já tentou a representação: desempenhou um papel de espiã da Mossad numa série dramática israelita chamada ‘Teerão’.

 

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