Está a ser desenvolvido há já algum tempo, e por iniciativa do Governo actual com o apoio (ou pressão?) dos partidos que o apoiam no parlamento, uma tentativa de promoção de uma política científica para o país. Discorde-se ou não do formato da mesma, a tentativa está em curso, ainda que nem sempre possa haver uma opinião plenamente fundamentada já que a sua regulamentação – talvez devido ao processo em si, que é de grande complexidade e à variedade de situações, e à possível confusão do legislador ou dos executantes – vai saindo a conta-gotas e sendo alterada a ritmos vários.
Infelizmente, todo este processo não tem tido contornos muito positivos e deixa-nos pouco optimistas pelo desejado caminho a seguir. Os factos são ainda muito duros para a Ciência em Portugal, pululada por interesses instalados e medos de quem ainda é precário. Os silêncios acumulam-se quer por parte de quem está fragilizado na sua posição de bolseiro (dependente, portanto), quer de quem quer vir a ser bolseiro (dependente, portanto) e de quem já é Professor ou Investigador de carreira (dependente de uma miríade de outros contornos, portanto).
As vozes de protesto têm sido poucas e as que surgem aqui e ali são-no tantas vezes mais por razões da política da “espuma dos dias” e menos pela defesa de uma política científica coerente, em evolução é certo, e com vista a um desenvolvimento do país, das condições de trabalho e de progresso dos cientistas: o que só trará frutos a médio e longo prazo e que é “longe demais” para aspirações políticas imediatas.
Estão finalmente abertos os concursos para o Programa de Estímulo ao Emprego Científico, mediante o qual se espera que as várias instituições universitárias contratem (integrem) investigadores de pós-doutoramento, e para o Estímulo ao Emprego Científico, através do qual se poderão contratar novos investigadores. Os concursos estão a decorrer, ou melhor, a sua intenção (para o primeiro caso com uma excepção que eu conheço), mas não se sabe o desfecho temporal dos mesmos.
A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) tem por hábito demorar mais tempo do que o previsto ou indicado nos processos que realiza. E se tal até poderia ser compreensível num primeiro momento, os tempos da FCT, não raramente, ultrapassam a razoabilidade. Parece que esta característica se tem mantido independentemente do executivo e/ou responsáveis, podendo eu avançar assim meio que atrapalhadamente para causas de path dependency que devem ser combatidas em nome da valorização do que tem valor: o respeito pelo trabalho dos investigadores mais bem preparados que o país alguma vez viu. Podemos ser optimistas, mas “prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.
E, já agora, os meus votos para este ano, imbuída que ainda estou do espírito sonhador dos novos começos: que este seja, finalmente, um bom ano para a Ciência em Portugal.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.