Sempre achei relevante estar atento às afirmações e formas de sentir de dirigentes empresariais, aproveitando as relações construídas ao longo da minha vida profissional neste domínio. E nelas pude constatar que nos últimos anos – e apesar da pandemia – uma boa parte dos sectores da indústria (em especial os exportadores) acusaram níveis de crescimento nos volumes de negócio muito significativos.

No entanto, a conjuntura actual, nomeadamente após o início da guerra na Ucrânia, tem gerado expectativas globalmente negativas face às sequelas que se vêm notando no reacender consistente – e não meramente conjuntural, conforme o Governo pressupõe – do processo inflacionista que determinará pela certa uma subida dos juros, criando assim condições para uma eventual recessão na Europa e, consequentemente, em Portugal, como economia aberta e fortemente dependente de parceiros europeus. Sendo que todos os apoios de urgência decididos pelo Governo nesta matéria são bem-vindos, mas parecem revelar-se claramente insuficientes.

E, a propósito do Orçamento do Estado em debate, os empresários em geral reiteram a falta de foco político nas empresas, na medida em que referem ser estas o verdadeiro factor de criação de riqueza que podem sustentar uma ambição de crescimento e de fuga ao posicionamento do país na cauda da Europa. De uma forma frontal, criticam os empresários aquilo que consideram uma opção – talvez mesmo ideológica – do Governo, ao não apostar com mais intensidade na cadeia da produção em detrimento do que ocorre na parte final da cadeia de valor, ou seja, na distribuição do rendimento.

Claramente, reclamam do Governo – no que concordo – uma maior atenção no discurso e na acção, conscientes no entanto que as empresas se devem fazer por si próprias e assim contribuírem para superar antigas debilidades estruturais do tecido empresarial, como é comprovado por bons sucessos existentes.

Consensual é, no entanto, para a classe empresarial a importância decisiva dos fundos comunitários, no sentido de alavancar o investimento, as exportações e  a substituição de importações, numa perspectiva de reindustrialização (com sustentabilidade ambiental), pelo que os dirigentes empresariais parecem ser firmes quanto à alocação de fundos do Portugal 20/30 que, segundo eles, deverá respeitar uma distribuição do tipo  ⅔ para as empresas e ⅓ para o Estado, precisamente o inverso do ocorrido no âmbito do PRR (já em execução). Por isso querem ser ouvidos quanto ao destino dos fundos em questão, facto que até agora não ocorreu, o que lamentam.

Reconhecendo que subsistem problemas de baixa produtividade e de falta de “escala” que condicionam o valor acrescentado das empresas, os dirigentes empresariais são em geral muito persuasivos quanto a medidas que acompanhem certas reformas de fundo adiadas e que, em particular, incidem na baixa da carga fiscal (IRC), na baixa da TSU para determinados empregos qualificados (embora se vise reter talentos, a medida é, obviamente, controversa), no menor nível de burocracia criado pelo peso do Estado na economia, na qualificação exigente dos recursos humanos a diversos níveis, na diminuição doutros custos do contexto, onde sobressai  de imediato o  problema dos custos energéticos.

Em suma, os empresários reclamam que seja dada, no âmbito da política económica, uma maior prioridade ao segmento empresas, convictos que a sua própria dinâmica será capaz de levar a economia a bom porto, em consonância com as grandes transformações que se colocam às economias, como por exemplo a descarbonização e a transição digital.

E, acrescento eu, os empresários também devem assumir – para além das situações de urgência – que uma política de apoio do Estado de “pôr dinheiro bom em cima de dinheiro mau”, em regra, só adia e atrapalha! Não faltam exemplos no passado!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.