A manifestação da CGTP no 1º de Maio, ainda durante o estado de exceção, foi desnecessária e polémica, não contribuindo para marcar uma posição política ou sindical. Uma birra a que o PCP e outros partidos de esquerda deram cobertura. Quando o país ainda se unia na compreensão de confinamento, alguns tiveram de invocar direitos inquestionados para se mostrarem diferentes.

A organização foi profissional como sempre a Intersindical se mostra. E nem existe prova de que o vírus se tenha tornado mais ativo. Foi um momento patético e constrangedor. Como foi lamentável a falta de coragem do primeiro-ministro e do Governo em assumir o erro da autorização, à qual o Presidente da República deu o assentimento tácito.

Constituiu um precedente e um prenúncio para outras ações na via pública, escancarada que foi a porta a argumentos de presença no espaço público, quer de natureza política, quer particular, agora com o anúncio de manifestações de partidos e de sindicatos, os quais podem contribuir para o agravamento da situação sanitária. Ações legítimas? Sem dúvida. Adequadas? Nem por isso.

O país que lidou exemplarmente com o primeiro período de isolamento, desconfinou e agora estrebucha. O levantamento das restrições abriu a porta da libertação, com sinais de impaciência e distração, particularmente das camadas mais jovens, contrariando orientações e causando preocupações com o surgimento de novos casos.

Torna-se mais complexo controlar os ímpetos de regresso ao natural convívio, quando não se sente o perigo de novos surtos apesar de anunciados. Exige-se uma intervenção mais musculada e imperativa, mais do que pedagogia. O ambiente geral não se mostra propício quando o mundo nos dá sinais de brechas na imagem da autoridade, pretextos para alguns se julgarem impunes e radicais, recorrendo ao insulto e à brutalidade, contra aqueles que têm como missão garantir a ordem pública.

O anúncio de novas manifestações pode concorrer para incendiar o já suscetível panorama social. À fogueira onde arde doença, desemprego, instabilidade, dúvida e cansaço como combustível, junta-se extremismo, motivação política e lógicas de multidão de movimentos não-orgânicos, logo potencialmente incontrolados. Os novos ativistas aguardam pelos rastilhos para ganhos de popularidade, onde o respeito pela ordem e saúde pública descaem para plano secundário.

Os valores da democracia liberal não podem ser postos em causa. Até agora há atos esporádicos e autocontrolados, mas que deixam rastos de destruição injustificável. O protesto é legítimo. Mas o sentido de autoridade existe para fazer cumprir as formas de organização da sociedade. E os seus agentes constituem os protagonistas deste propósito. Ninguém está acima da lei, nem estes, nem quem protesta.

O desrespeito por ação a quem impõe a ordem pública e nos protege e, por omissão, a quem cumpre a função sanitária e nos prolonga a vida, sinaliza a negação à nossa forma de viver. Tudo é uma questão de compreender a autoridade. Ou será apenas falta de autoridade política…