Faltam poucos dias para as eleições americanas e ninguém lhes é indiferente. Um processo eleitoral sempre complexo, no qual quem tem mais votos pode não ganhar, é seguido globalmente pelos centros de poder, governos, instituições, empresas internacionais e população. Nestas eleições há um foco: Donald Trump, o atual dono da Sala Oval, homem todo-poderoso que construiu a sua imagem na televisão e sobre uma invejável fortuna e que pode perder a eleição para Joe Biden, que aos 77 anos, a ser eleito, será o mais velho Presidente de sempre.
O debate eleitoral, assente no perfil dos candidatos e na forma de exercício do cargo, não tem sido nem profundo nem estimulante nas propostas em confronto. Ao contrário das eleições anteriores, onde a questão dos migrantes ou a corrupção de Hillary Clinton assumiu centralidade, nesta campanha houve pouca ideologia, reduzido debate e muita fanfarronice.
Há duas dimensões para acompanhar estas eleições. A avaliação da forma como Trump geriu o seu mandato, no meio das suspeitas de interferência russa nas eleições e nas sucessivas demissões de pessoal do seu gabinete, nas declarações através do Twitter que incendiaram a política americana e internacional, em incongruentes, inesperadas e intrépidas tomadas de posição.
Das declarações inflamadas sobre a Coreia do Norte ao abandono do acordo nuclear com o Irão e do acordo sobre controlo de armamento, os episódios relativos ao muro com o México e ameaças diretas à China, estas pronunciadas crescentemente após a pandemia com referências sistemáticas sobre a origem chinesa do novo coronavírus, mesmo em situações de acerto perdiam a razão pela forma como eram assumidas. Isto apesar dos resultados no processo de paz do Médio Oriente, com o inédito acordo entre Israel e alguns países árabes, além de resultados positivos na economia e na criação de emprego.
Biden assenta as suas propostas na reversão das políticas de Trump, no regresso ao acordo de Paris, na consolidação do Obamacare, em propostas de acesso à escola dos mais desfavorecidos e na tributação de grandes fortunas como forma de financiamento de programas sociais. Na Europa estaríamos perante programas desenvolvidos por governos de centro-direita. Nos EUA chamam-lhes socialistas. Numa apreciação do exterior aplaude-se o retorno de Washington ao multilateralismo, à participação ativa na política internacional e na presença em teatros de conflitualidade internacional, retirando espaço à Rússia e China que buscam conquistar espaço e influência.
Em matéria de personalidade e de objetivos, Biden, com moderação, garante o empenho e a presença dos EUA onde for necessário. Não como polícia do mundo, mas como contribuinte líquido para a paz. E aqui tem feito muita falta.
As propostas são o verso e o reverso dos mandatos de Obama, ainda e sempre, o influenciador da política americana da última década. Nestas eleições não é uma escolha entre esquerda e direita, nem entre vice-presidentes, homem ou mulher, branco ou negro. É a escolha de um Presidente que honre os seus antecessores e que honre a nação “with liberty and justice for all”.