O real brasileiro tem vindo a desvalorizar ao longo do ano. Esta semana, um dólar foi trocado por 5,70 reais, o que não acontecia desde janeiro de 2022. Face ao euro, a moeda brasileira também resvalou para níveis não vistos há mais de dois anos, atingindo 6 reais por euro. Até agora, o real acumula uma desvalorização de aproximadamente 15% face ao dólar em 2024.

O presidente Lula da Silva considera que se trata de um “ataque especulativo” e admitiu que poderá ter de intervir. Lula está preocupado, mas vai atribuindo as culpas aos “adversários” e não ao funcionamento do mercado.

O real não é a única moeda da América Latina a ter um ano difícil. Embora cada caso tenha um contexto próprio, as moedas do México, Colômbia, Peru, e Argentina, só para citar algumas, têm registado desvalorizações importantes.

Em parte, a explicação está no interesse que as economias da região despertaram, captando montantes significativos de investimento em carteira. Alguma deceção a nível económico, riscos políticos e fiscais, bem como a manutenção de taxas de juro altas do dólar, ajudam a explicar as quedas.

No caso do Brasil, a evolução cambial foi globalmente positiva desde o pico da pandemia até ao final do ano passado. O mercado apreciou a remuneração da moeda, avanços na disciplina orçamental e a boa performance das contas externas brasileiras, que beneficiaram da alta de preços em algumas das commodities que o país exporta. No entanto, este contexto positivo tem vindo a mudar.

Por um lado, os ventos dos mercados de matérias-primas já não são tão favoráveis em termos de preços das exportações e a taxa de juro tem vindo a cair desde agosto, ainda que continue a ser uma remuneração atrativa em termos reais – a Selic foi cortada de 13,75% para 10,5% nesse período. A perceção sobre o futuro das contas públicas também já não é tão positiva, o que afasta investidores.

No entanto, o mercado parece particularmente desagradado com as tentativas de interferência de Lula na condução da política monetária, ao defender juros consideravelmente mais baixos.

O presidente do BACEN, Campos Neto, tem defendido a independência face ao poder político, e considera que há um prémio de risco sobre o Brasil que tem aumentado devido à incerteza sobre o que acontecerá quando a próxima liderança do banco central tomar posse.

Em suma, a queda do real não deve ser dissociada do ambiente geral de investimento na América Latina, mas é influenciada por fatores idiossincráticos, com o risco de perda de independência do banco central a causar receios dos mercados.