Esta nova epidemia mundial, para além das nefastas e óbvias consequências para a saúde, trouxe também um clima de recessão global.

A realidade pode muito facilmente transformar-se num descalabro económico se os governos não vierem a intervir fortemente, ajudando a mitigar os efeitos económicos desta crise epidémica com medidas rápidas e eficazes para os problemas que as empresas e as pessoas vão enfrentar nos próximos meses. Com escolas, faculdades, lojas, restaurantes, museus, empresas e indústrias fechadas, sobrepondo-se ainda o apelo feito às pessoas para ficarem em casa, o consumo, motor da economia, vai diminuir fortemente em tudo o que não sejam bens de primeira necessidade.

A redução drástica da procura vai levar as empresas a cortar nos custos, o que se traduzirá num despedimento massificado, dando-se início a um ciclo perigosíssimo. Um aumento súbito e elevado do número de desempregados leva a uma quebra do poder de compra geral da sociedade, com efeitos na diminuição da procura, o que nos leva de volta ao início do ciclo: diminuição do consumo, diminuição das vendas, despedimentos, diminuição do poder de compra, diminuição da procura, diminuição do consumo, e assim sucessivamente.

Para evitar este destino fatal, a Europa precisa de um ‘’New Deal’’ que venha ajudar a combater a crise que se começa a instalar, nomeadamente através da injeção de dinheiro na economia, garantindo que as empresas têm acesso à liquidez de que necessitam, mantendo também os rendimentos das famílias. Tendo em vista estes objetivos, a Comissão Europeia suspendeu temporariamente as regras que limitam o défice orçamental, passando uma mensagem clara aos Estados de que devem gastar o necessário para apoiar a economia.

Na Alemanha, o governo disponibilizou empréstimos para as empresas no valor de 500 mil milhões de euros. Em França, a linha de crédito foi de 300 mil milhões, mais 45 mil milhões no perdão e adiamento de impostos e ajudas aos trabalhadores. Nos Estados Unidos fala-se em oferecer um cheque a cada americano no valor de, pelo menos, 1.000 dólares, numa tentativa clara de impulsionar o motor da economia, o consumo.

Em Portugal, o Governo anunciou as suas medidas: uma linha de crédito no valor de 3 mil milhões de euros, medidas que permitem o adiamento do pagamento de empréstimos à banca, e de impostos e contribuições ao estado.

Ninguém sabe bem se estas medidas são suficientes para contrariar o abrandamento da economia nestes países, no entanto, sabemos que nesta situação mais vale pecar por excesso do que por defeito, e Portugal parece não estar a correr esse risco (de pecar por excesso, entenda-se). Se compararmos a escala da economia de cada país, Portugal fica claramente muito abaixo dos restantes.

Felizmente, ao contrário do que Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, dizia há umas semanas atrás, o BCE desempenhará um papel fundamental no financiamento destas medidas na zona euro, nomeadamente ao garantir que os Estados se conseguem financiar a baixo custo. Com as taxas de juro diretoras já baixíssimas, o BCE anunciou um programa de compra de ativos no valor de 750 mil milhões de euros, uma “bazuca” que permitirá o financiamento dos Estados e o controlo das taxas de juro das dívidas públicas.

Uma última palavra relativamente ao setor do turismo: segundo dados oficiais do INE, este setor teve em 2018 um contributo de 14,6% para o PIB nacional, empregando mais de 400 mil pessoas, o que representava, à data, 9% do emprego total no país.

Portugal era na OCDE, em 2016 (últimos dados disponíveis), o país em cujo turismo mais pesava no PIB. Será que é bom para qualquer país estar tão dependente de um só setor, como Portugal está do turismo? É de esperar que enquanto a pandemia Covid-19 se mantiver, o turismo seja inexistente, o que não só é compreensível como é necessário à erradicação da doença. O mais provável, face ao cenário de recessão global, é que o turismo em Portugal não apresente a elevada procura que demonstrou nos últimos anos.

No entanto, tomemos todas as medidas necessárias para travar a propagação do vírus, pois até a mais profunda crise económica é recuperável, vidas humanas não.