A crise dos combustíveis que exibiu a fragilidade do Estado e a tibieza do Governo – já há quem lhe chame a “semana venezuelana” – , preocupou seriamente os portugueses e deixa muitas perguntas por responder. Alguma comunicação social especializou-se em confundir. Muitos directos mas pouca informação.
As perguntas:
a) o “mágico “ acordo entre os patrões e o novo sindicato que terá possibilitado o fim da greve deixou de fora dois pontos importantes da reivindicação dos motoristas: diminuição dos anos de carreira e acesso à reforma mais cedo ; alguém explica?
b) as negociações vão iniciar-se no final deste mês e devem acabar em Dezembro; nove meses para fechar um acordo parece excessivo, mas empurra um eventual desenlace negativo para depois de todas as eleições deste ano. Coincidência?
c) o Governo começou por dizer que nada podia fazer dado tratar-se de um conflito laboral entre privados para 24 horas depois funcionar como mediador; acordou tarde ou errou na previsão do que iria acontecer, sabendo da greve desde 1 de Abril?
d) o episódio da requisição civil começou por se limitar a declarar Lisboa e Porto como únicas áreas geográficas a salvaguardar (o resto do país não existia) para depois corrigir o tiro e avançar para a calamidade energética nacional (no momento em que todo o país já estava na penúria…). Alguém clarifica?
Eram estas algumas das questões que muitos gostariam de ver esclarecidas. E se o Governo as não esclarece ocupado que está em arvorar-se no santo milagreiro que “salvou o país”, a comunicação social que se esforce.
O primeiro-ministro disse que “a grande lição a tirar” desta semana é a de que “são intoleráveis os aproveitamentos políticos”. É pena (para todos nós) não ter aprendido nada com o que se passou: o que todos constataram é não existir em Portugal um plano de resposta devidamente preparado e em condições de ser executado que, perante situações de emergência como a que ocorreu, salvaguarde verdadeiramente o serviço público, garanta os serviços mínimos e tranquilize os portugueses. Essa é que é a grande lição.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.