As últimas movimentações no Oriente Médio têm fomentado um verdadeiro exercício de poder e estratégia no xadrez global.

Por um lado, Benjamin Netanyahu buscando permanecer no poder através da guerra em Gaza e, ao mesmo tempo, tentando reverter a imagem negativa construída pela punição coletiva imposta aos palestinos em Gaza. Por outro, a resposta do Irã flexionando a sua musculatura diante de um governo politicamente fragilizado em Israel, porém nuclearmente armado.

Os Estados Unidos têm adotado uma postura dúbia: condena a ação do governo de Israel, porém continua a fornecer-lhe armas, porque Joe Biden está mais preocupado com o possível retorno de Donald Trump à presidência do que com a mortalidade crescente em Gaza.

Vladimir Putin que, a despeito das inúmeras sanções impostas, tem conseguido manter a Rússia numa tendência de crescimento econômico e perspectivas positivas de vitória na Ucrânia, tornando-se essencial no relacionamento com o Irã.

Na Europa, as dificuldades econômicas podem aumentar substancialmente com o alastramento da guerra. Emmanuel Macron segue em contínua queda de popularidade, Rishi Sunak levará o Partido Conservador à derrocada eleitoral no próximo pleito eleitoral, e Olaf Scholz tem uma coalisão enfraquecida.

A China, apesar do desafio da troca do modelo econômico – de base exportadora para maior dependência no mercado doméstico – com os desafios do desemprego e os de uma economia global que tem sido lenta em recuperar-se, surpreendeu o mundo com sua taxa positiva de crescimento no primeiro trimestre deste ano e uma postura diplomática sólida na questão palestina, alertando que, apesar de todos os desafios atuais, não se pode arrastar o mundo a uma terceira guerra mundial para atender às necessidades políticas de Netanyahu e se colocar a tragédia em Gaza em segundo plano.

O ataque do Irã a Israel é um alerta vermelho para o Ocidente não repetir os erros do passado. O ostracismo global imposto ao Irã desde 1979 não melhorou, em nada, a estabilidade da região. Tampouco impediu o avanço do programa nuclear iraniano. Por isso, é necessário modificar a estratégia: ao invés de sancionar, engajar.

Guerras não deveriam jamais fazer parte do receituário político-eleitoral das democracias. Principalmente, quando um erro pode levar-nos à devastação de uma terceira guerra mundial. A paz requer inovação no pensamento e na ação – e não repetição de erros anteriores. A única vitória é a paz.