Em geral, sabe-se o que Pedro Santana Lopes defende, mas pode ser mais preciso. À exceção do PCP, que monótona e previsivelmente bate nos mesmos temas desde há dezenas de anos (“o nosso povo”, “o grande capital”), com o objetivo de se afirmar como representante exclusivo de uma massa incongruente que a propaganda reduz a “trabalhadores”, os outros partidos têm demonstrado dificuldade em construir comunicação assente numa única grande ideia suportada por duas ou três ideias subsidiárias. Todos os dias há mensagens desgarradas, supérfluas e vácuas ondulando ao sabor de quem comanda a agenda política e comunicacional.

A abordagem de cada questão tem, necessariamente, de ser enquadrada de modo claro na estratégia política e na estratégia comunicacional. Na verdade, uma única ideia, em uma ou duas palavras (Obama “Change”, Trump “Great Again”) pode abarcar rios de outras ideias, desde que obrigatoriamente confluam como uma narrativa simples e coerente no infinito oceano que é a cabeça de cada um dos eleitores, inundada por mensagens de todos os tipos – onde, se não houver concisão comunicacional, e se não tocar na corda sensível de cada eleitor, é muito difícil conseguir ser localizada e eventualmente resgatada para terreno firme e acolhedor na ténue memória política do eleitor.

É indiferente para os eleitores conhecer as motivações pessoais que fazem correr Santana Lopes (“vingança”, “protagonismo”), ou as de qualquer outra pessoa que concorra a um lugar eleito, desde que essa pessoa apresente um objetivo político (visão) bem definido, ideias claras sobre como o atingir (missão) e qual a ética que sustenta a política proposta (valores). Se a pessoa dorme melhor à noite porque está em confronto político, é apenas importante saber na medida em que isso poderá contribuir para mais saúde, elemento eventualmente necessário para congregar a coragem e energia para ganhar a refrega.

Da entrevista que deu à SIC, ficou claro que Pedro Santana Lopes defende o que defendeu enquanto candidato à liderança do PSD.  Quer que a economia nacional cresça e que Portugal deixe de ser ultrapassado por países que vêm de um PIB per capita muito inferior ao nosso, como os da Europa de leste. Que eu saiba, é o único político a colocar a questão do PIB como elemento central e definidor de tudo o resto.

A ideia poder ser afinada, enquadrada na geopolítica, desde logo europeia, e sustentada em “casos” ou ideia subsidiárias (cases). Um exemplo atual. Portugal está nos primeiros lugares (15º em 2016) numa lista da OCDE dos países com mais doutorados – mais que a Suécia, Suíça, Bélgica.

Todavia, o PIB per capita desses países é bastante mais elevado que o de Portugal. Há uma manifesta incongruência. O investimento em mais conhecimento, em mais saber, não está adequada ou suficientemente a contribuir para a economia produtiva. As empresas, em particular as PME, têm dificuldade em contratar, contando muitas vezes só com elas mesmas, e a academia tem ainda dificuldade em imiscuir-se no comércio e indústria.

No título deste texto sugiro qualificar o PIB per capita com dois adjetivos (maior e melhor) que me parece darem aos eleitores uma ideia de direção. Maior PIB per capita significa melhores condições de vida para as pessoas em geral – ou deverá significar se for desincentivada a cada vez maior desigualdade salarial em Portugal. Melhor significa que deverá ser alcançado através de conhecimento novo, nova tecnologia, novos mercados.

O corolário deste axioma é maior produtividade. Os defensores da via Chavista-Madurista equacionam produtividade com “exploração dos trabalhadores” e assentam a propaganda nessa ideia abstrusa, mas cativante para quem não vislumbra nem acredita que valha a pena ser mais produtivo para ter um futuro melhor. Os últimos estudos de opinião revelam que, depois de um momento de euforia, os portugueses estão agora desconfiados em relação ao futuro da economia. A desmoralização tem reflexos negativos na produtividade.

Para terminar, ofereço uma perspetiva sobre os problemas de produtividade no Reino Unido e de ideias sobre causas e soluções. Tal como Portugal, o Reino Unido está a conhecer uma continuada redução da produtividade. Há poucas semanas, o Financial Times desafiou os seus leitores a propor soluções para a “crise da produtividade britânica” (link para assinantes). O jornal selecionou as seguintes, que me parecem ser de interesse para o caso português:

A produtividade é localizada. Há cidades e regiões com produtividade muito elevada (Londres, os campos de petróleo do Mar do Norte), e outras onde sucedem o fecho de fábricas. Solução: desenvolver clusters como o Vale do Tamisa ou transformar Glouscester-Cheltenham-Newport num corredor high tech.

O “modelo John Lewis”, a cadeia de armazéns que é propriedade dos empregados, parte da premissa que as pessoas são boas a fazer aquilo que querem ser boas a fazer. Restabelecer a ligação a uma ética coletiva de trabalho, reposicionar o sentido de pertença e ajudar a empresa a ter sucesso.

Milhares de horas perdidas nos transportes para o trabalho para produzir um Excel para o qual nem sequer há feedback. Baixa moral. (Mas um estudo recente nos EUA diz demonstrar que os engarrafamentos são sinal de vitalidade económica e que em pouco afetam a produtividade…)

Salários “gatos gordos” (fat cat) desmoralizam os trabalhadores. Porquê deixar de ser preguiçoso se a maior parte dos lucros vão para os administradores e gestores de topo? Melhor distribuição dos lucros poderá motivar mais produtividade.

A culpa é das baixas taxas de juro porque conduzem a share buybacks em vez de os lucros serem reinvestidos desde logo em tecnologia, o maior contribuidor para a produtividade; porque mantêm vivas empresas zombies; alimentam muito investimento em imobiliário que tem pouco efeito na produtividade.

A formação vocacional está em grande parte ausente. Países como a Alemanha, Suíça e Holanda oferecem um meio termo: no Reino Unido ou se trabalha no Starbucks ou se vai para a universidade. Não há meio termo. Um estudo recente revelou que o modelo está a entrar em crise na Alemanha porque os jovens querem o prestígio do canudo universitário.

Um clima de incerteza maciço criado pela classe política, desde logo o Brexit, mas também constantes mudanças na legislação, demasiada regulação que obriga a postos de trabalho só para não incumprir, em vez de investimento em postos de trabalho produtivos.

O problema são as universidades porque ninguém chumba, ao contrário da Alemanha, onde os alunos sofrem com muito trabalho e metas apertadas e quando saem estão preparados para entrar no mercado de trabalho.

 

P.S.: A propósito do problema da baixa produtividade no Reino Unido foi ontem publicado este estudo do McKinsey Global Institute.