Se tínhamos dúvidas que a Europa vai perder o comboio da competitividade e a atração de investimento, esta semana ficou ainda mais claro. Refiro-me à reação do governo alemão ao apelidar de “ataque não amigável” a tentativa do banco italiano UniCredit comprar o Commerzbank.

Recordo que após a crise soberana, há dez anos, foi criada a União Bancária, um dos pilares da integração dos mercados e uma forma de os bancos europeus resistirem a futuras crises. Ora, a fusão entre entidades bancárias é um dos pressupostos desta União, cria enormes sinergias e devia ser fomentada. Aliás, o BCE refere amiúde que existem muitos bancos na zona euro e defende uma maior concentração.

Sem ser pela falência dos bancos, a única alternativa que vejo é a de fusões e/ou aquisições. Lembro que a Alemanha é um mercado muito fragmentado, com mais de 1400 bancos, e não deixa de ser curioso que um banco do Sul da Europa tenha a ousadia de fomentar a concentração naquele que deveria ser o mercado farol. Afinal a consolidação é boa, desde que seja fora da Alemanha?

Alguns dados para reflexão. O Unicredit vale em bolsa 60 mil milhões de euros, enquanto o Commzerbank vale 18 mil milhões (MM). Por comparação, o Santander vale 77 MM, o BNP Paribas 70 MM e o UBS, que comprou o Credit Suisse, vale 90 MM. Em suma, não temos um banco europeu, na Europa continental, que valha mais de 100 MM em bolsa.

Comparemos apenas com dois bancos nos EUA, o JPM que vale em bolsa 600 MM de dólares, ou o Bank of America, que vale 300 MM. Chegamos assim à conclusão que apenas um banco americano vale o equivalente a todos os maiores bancos europeus cotados. Impressiona a disparidade de valorização, que não deixa de ser uma amostra do trabalho realizado nos EUA, com constantes fusões e aquisições que se fecham num fim de semana. Na Europa, estamos a discutir na praça pública uma fusão entre dois bancos de países diferentes debaixo da mesma União Bancária.

Os políticos europeus continuam a brincar com os investidores e a população, pois, por um lado, vende-se a ideia de uma Europa integrada para poder competir com os EUA, Japão ou China, mas, por outro, não consegue apoiar uma fusão que nem sequer iria criar o maior banco europeu!

As semelhanças com a tentativa de fusão entre a Siemens e a Alstom para constituir uma das maiores empresas industriais europeias são idênticas: as oposições nacionais e a visão de curto prazo da Comissão Europeia. Não é por acaso que a Intel congelou projetos de construção de fábricas de chips na Europa, ou porque a inovação está nos EUA. A Europa é protecionista de uma forma invisível – pela política e burocracia.

No caso da operação aqui referida, cabe ao BCE salvar a União Bancária lançada em 2014 e evitar a perda de confiança no projeto de integração europeia.