A conclusão das negociações do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia foi um marco inédito no comércio internacional.

Trata-se de uma oportunidade para a integração económica de dois blocos que, juntos, somam mais de 750 milhões de pessoas e respondem por cerca de 20% do comércio global. O acordo, que agora aguarda revisão legal e internalização, estabelece as bases para um novo ciclo de crescimento económico, inovação e competitividade. O tratado extingue barreiras tarifárias, fomenta investimentos e reforça parcerias
estratégicas, permitindo a ambas as regiões tirar proveito das suas vantagens comparativas para construir cadeias globais de valor mais integradas e resilientes.

Para o Mercosul, contribuiu com o acesso a mercados dos mais exigentes do mundo, com espaço para produtos agrícolas, industriais e serviços de alto valor agregado. A abertura de barreiras tarifárias permitirá que setores-chave do Mercosul, em especial o agronegócio,
expressem o seu potencial em mercados de alta competitividade. Todavia, produtos como a carne, grãos e vinhos, terão privilégios, enquanto setores industriais poderão expandir em nichos.

Como maior economia do Mercosul, o Brasil joga um papel central na implementação e no aproveitamento das vantagens do acordo. Maior acesso ao mercado europeu poderá impulsionar setores estratégicos em crescimento, da agricultura à tecnologia e à manufatura de bens. Fabricantes de alimentos finos e exportadores de produção industrial, já estabelecidos globalmente no Brasil, se destacarão. Ademais, o tratado possibilitará a atração de investidores para infraestruturas, tecnologia e inovação ao modelo de desenvolvimento sustentável ao fortalecimento de cadeias de valor regionais. Dessa maneira, os países promoverão inovação tecnológica, emprego e renda.

No entanto, o pacto não se limita a facilitar o transporte de mercadorias; o pacto incentiva a cooperação tecnológica e a integração de práticas verdes. A experiência interblocos fortalece a modernização de indústrias antigas e a expansão de setores emergentes em ascensão, agricultura sustentável e inovação industrial. Atraído para as cadeias de suprimentos mundiais, o Mercosul aumenta sua competitividade e
diversifica as exportações, reduzindo sua dependência de commodities e adicionando valor à mercadoria e diversificando serviços.

Além disso, dada a evolução do cenário internacional, o Mercosul é um movimento estratégico essencial para o bloco europeu. Diante da possibilidade de uma postura mais rígida do governo dos EUA em relação aos seus parceiros comerciais, a Europa encontra ainda mais incentivos para ampliar e fortalecer a estabilidade das suas relações económicas globais. Nesse contexto, a Europa reforça as suas relações com o Mercosul, um parceiro estratégico que oferece acesso a mercados em expansão, recursos naturais e oportunidades de inovação. A
consolidação dessa parceria é mutuamente vantajosa, contribuindo para equilibrar oferta e demanda enquanto fortalece a estabilidade económica dos blocos envolvidos.

Portugal tem um papel crucial nesse aspeto, podendo operar como a ponte natural entre os negócios do Brasil e do continente. A sua relação histórica e cultural única com o Brasil faz de Portugal um hub perfeito para a entrada de empresas brasileiras no mercado europeu. Com base
na sua excelente localização, infraestrutura moderna e valores e padrões comuns aos da UE, Portugal é um ponto de conexão excecional. Além disso, instituições como a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira vêm trabalhando incansavelmente para fortalecer os laços entre empresários e promover parcerias, tornando a economia mais integrada e a rede de negócios mais orientada para o futuro.

Embora este seja um passo significativo, há desafios que também devem ser endereçados: as nações do Mercosul devem investir em infraestrutura, capacitar sua mão de obra e prepará-la para atender aos padrões, e ficar de olho na regulamentação. Importante, o fortalecimento das PME será primordial para que esses benefícios sejam igualmente distribuídos e produzam um clima de crescimento económico inclusivo. Nesse sentido, instituições comerciais como câmaras de comércio têm um papel vital a desempenhar.

O acordo entre os blocos é mais do que um marco histórico, é uma plataforma para o futuro. Ele redefine as relações comerciais para criar
um ambiente mais competitivo e melhor integrado e cria a base necessária para apoiar uma colaboração mais ampla em áreas como inovação, sustentabilidade e desenvolvimento econômico. É essencial um esforço coordenado entre governos, empresários e instituições, assegurando que as oportunidades se traduzam em benefícios concretos para as economias e sociedades participantes.

Esse é o momento de agir com inteligência, de aproveitar as vantagens proporcionadas por esse novo ambiente para constituir um comércio mais robusto, sustentável e inclusivo.