Nos dias que correm, não creio que seja um erro dizer que a União Europeia (UE), e tudo o que esta implica, é um dos projetos mais ambiciosos do mundo. No entanto, para entender esta afirmação é preciso perceber exatamente o que é a UE e um pouco da sua história.

Atualmente, a UE é, como o nome indica, uma união. Esta união é composta por 27 Estados-membros que partilham muitos dos mesmos valores, nomeadamente, os direitos humanos, a liberdade, a paz, a democracia, a justiça, uma visão para um futuro ecológico, entre muitos outros.

Na UE, todos os Estados-membros têm acesso a uma troca livre de bens e serviços num dos maiores mercados do mundo e a maioria destes Estados partilha a mesma moeda, facilitando ainda mais a troca internacional. Para além destas características, os cidadãos europeus têm ainda a liberdade para se mobilizarem para qualquer outro país dentro do espaço Schengen, sendo este composto maioritariamente por Estados que fazem parte da União Europeia.

Houve uma evolução notável desde que este projeto começou, tanto a um nível de expansão, aumentando assim o número de Estados-membros, como a um nível de credibilidade, fazendo com que o Euro se tornasse a segunda moeda mais forte no mundo. No entanto, existe cada vez mais, uma onda de críticas e cherry picking de dados de maneira a justificarem uma decomposição da União Europeia, ou uma eventual saída de um Estado-membro. Por norma, estes argumentos têm origem num pensamento populista, utilizando falácias de maneira a descredibilizarem o sistema.

A economia é uma ciência social e, apesar de envolver muita matemática, existem diversos modelos para explicar o mesmo fenómeno em momentos diferentes da história devido às expectativas das pessoas em cada altura. Por este mesmo motivo, é importante haver credibilidade e confiança no sistema.

Por exemplo, se as pessoas não acreditarem num governo e na moeda do seu país, então esta irá desvalorizar cada vez mais. De forma semelhante, se ninguém acreditar na União Europeia devido ao crescimento de uma ideologia extremista, então, esta união também irá ser desvalorizada ao ponto de não significar nada. Para evitar que cheguemos a este ponto, é importante demonstrar uma UE unida e forte, e acima de tudo, é da maior relevância não ficar preso a um único dado, mas sim, contar a história toda.

Um bom exemplo da importância dos sentimentos das pessoas quanto a um sistema foi o cenário da crise da dívida soberana. Portugal na altura estava com uma dívida demasiado alta, assim, os investidores começaram a duvidar da capacidade de o país pagar a dívida, e os juros começaram a subir, pois o risco em emprestar dinheiro passou a ser maior. Mas se os juros subirem muito, então, será impossível pagar, e aí estaremos perante uma self fulfilling prophecy.

Tendo em conta que Portugal e outros Estados-membros se encontravam numa situação em que poderia haver um sudden stop – quando deixa de haver novos empréstimos a entrar no país – seria de esperar que as pessoas começassem a perder confiança na União Europeia, e em particular no Euro, e foi isso que aconteceu. Para combater este cenário, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um pacote de medidas em 2012. Mario Draghi, o então presidente, disse as seguintes palavras: “Whatever it takes to preserve the euro”.

Ora, no mesmo dia, ainda antes de qualquer medida ser aplicada, a confiança dos mercados financeiros voltou e as taxas de juro baixaram, tudo porque as pessoas viram credibilidade no BCE e nas palavras de Mario Draghi, atualmente conhecido como o salvador do Euro.

O objetivo que pretendo alcançar com este exemplo, e este texto, é demonstrar que é preciso continuar a confiar na União Europeia. Não podemos cair em falácias simples e extremistas, temos que tentar conhecer a história, as perspetivas, os progressos alcançados e as vantagens em fazer parte de tal projeto, para que não aconteça uma self fulfilling prophecy.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.