A União Europeia, o quinto e mais profundo nível de integração regional, não atravessa dias fáceis, com a agravante de ser improvável que o ambiente de venha a desanuviar na sequência do ato eleitoral de 26 de maio.

De facto, depois de não ter acautelado devidamente as consequências de um alargamento demasiado apressado e abrangente a leste, a União Europeia vê-se confrontada com três desafios para os quais não se vislumbra uma resposta segura.

Em primeiro lugar, a questão do Brexit. Um processo que está a provar à saciedade que o Reino Unido, sobretudo a Inglaterra, pauta as suas relações internacionais por uma mistura de snobismo e de pragmatismo pouco propensa a solidariedades e ideais. Uma decisão que ainda irá fazer correr muita tinta, tanto a nível do Reino Des(Unido) como da União Europeia (UE), sendo altamente provável que as duas partes venham a pagar um preço demasiado alto, qualquer que venha a ser a solução final encontrada. Mesmo no cenário de um segundo referendo vir a reverter o Brexit. A confiança, que já não era grande, foi quebrada.

Em segundo lugar, a expansão do populismo. Um fenómeno que os Estados-membros foram desvalorizando ao circunscreverem-no a franjas extremistas e sem grande capacidade de mobilização. Um erro que levou à situação atual, ou seja, em nove países da UE há pelo menos um partido populista no Governo – Hungria, Polónia, Itália, Grécia, Áustria, Finlândia, Bulgária, Eslováquia e Letónia – com a agravante de vários partidos populistas – Fidesz, PiS, Syriza, Liga e M5S – liderarem os executivos.

Um populismo maioritariamente de direita, mas que não exclui a esquerda, e que está a crescer a um ritmo acentuado, uma vez que o voto populista não anda longe da quarta-parte da percentagem total. Um populismo que se alimenta da quebra de confiança das pessoas nas instituições. Pessoas já esquecidas que o presente, ainda que difícil, nada tem a ver com um passado em que os nacionalismos exacerbados levaram a duas guerras civis, europeias pelas motivações e mundiais pelos efeitos.

Dourar hiperbolicamente o passado nacional e acenar com propostas simplistas para situações complexas tornaram-se duas bandeiras do populismo. Uma estratégia que os partidos tradicionais, também eles com assinaláveis culpas no cartório, não têm logrado desmantelar.

Em terceiro lugar, o funcionamento da União Europeia, de democraticidade duvidosa e assente numa máquina burocrática demasiado onerosa, tem contribuído para afastar os povos do centro decisor sediado em Bruxelas. Daí os elevados índices de abstenção registados nas eleições para o Parlamento Europeu, o único órgão eleito pelos cidadãos dos Estados-membros.

Para piorar o cenário comunitário, a situação não se apresenta risonha a nível interno de alguns membros. A Alemanha prepara-se para assistir ao fim da liderança de Merkel numa altura em que a populista AfD já ocupa 91 cadeiras no Bundestag. Em França, é visível a dificuldade patenteada por Macron para suster os coletes amarelos e os populismos de Marine Le Pen e Jean-Luc Mélanchon. Em Espanha, é altamente provável que Pedro Sánchez venha a liderar um albergue em que nem todos querem ser espanhóis.

Face ao exposto, não admira que os europeístas tenham saudades das vozes encantatórias que lançaram os alicerces da comunidade.