Estamos em pleno período de escolha dos deputados ao Parlamento Europeu. As urnas já abriram e entre 23 e 26 de maio, os cidadãos votam, para não falar dos processos de votação antecipada onde em Portugal atingiu uma curiosa, inesperada e interessante participação.

As eleições europeias são habitualmente um processo pouco participado. O que se tem agravado, sintoma de falta de motivação, provavelmente na convicção de que a escolha não condiciona o quotidiano, ao invés de eleições legislativas onde se conhecem os candidatos e se crê num resultado que conduz à escolha do governo.

A crescente abstenção nestas escolhas parecem correr em paralelo com um maior afastamento das pessoas pelos ideais europeus. Por razões nacionalistas ou crassos erros políticos, os sinais de proclamações não são suficientes para sentir a relevância do projeto idealizado por Robert Schumann, entre outros.

A Europa transversal e sem passaportes, do Erasmus ou da mobilidade, da inovação e criatividade, do livre comércio, da moeda única e da paz não são argumentos suficientes para que os cidadãos desta Europa mantenham a motivação transnacional em níveis tão elevados que sintam este continente como seu.

Os refugiados e migrantes proporcionaram que os nacionalistas transformassem a construção conjunta num percurso cheio de espinhos, onde a solidariedade e o voluntarismo têm prazo. As crises que sempre seriam vividas receberam o apelido de Europa, mas foram agravadas pelo condicionamento estratégico a leste, o imbróglio britânico, a inexistência de uma liderança institucional forte e o garrote dos Estados-membros.

Tornou-se recorrente afirmar que a Europa se tem de redefinir e encontrar. E para a sua construção não bastam grandes tiradas filosóficas. Esta União carece de uma vontade não demonstrada pelos Estados de uma liderança forte, sem paternalismos, e de cidadãos dedicados que se sintam compelidos a participar.

A UE dá passos atrás na sua edificação. A União está num momento de ficar sem o seu ativo mais relevante – as pessoas. E sem conquistar os cidadãos não haverá Europa. Não haverá mobilidade ou liberdades fundamentais, nem comércio ou economia. Não releva a democracia geral, mas a soma das democracias individuais. Com notório e expresso prejuízo de todos os que já esqueceram que a distância entre países se mede na burocracia, na indiferença e numa pretensa autoridade que causou inveja, pobreza e discriminação.

O projeto europeu autoconsome-se face a uma maior relevância assumida pela defesa do planeta, e pela impossibilidade de demonstrar que o conjunto de países nele integrante, vistos isoladamente, será consumido pelos grandes blocos onde se consagram EUA, Rússia e China, cada um disponível para fazer da Europa o seu quintal.

Temos assistido a um movimento de luta pelo reconhecimento da relevância das alterações climáticas liderado por uma muito jovem sueca, que fez mais publicamente pela salvação do planeta do que a ação de políticos e cientistas nos últimos anos. Ação essa que tem tido o seu epicentro na Europa.

Não participar nas eleições é uma mensagem de retrocesso que os cidadãos não merecem. Votar é um ato de partilha de futuro, tão relevante como cuidar do planeta e assumir que as alterações climáticas podem ser trabalhadas de forma mais determinada por uma Europa unida que se preocupa. Mas para isso é necessário participar neste processo e exigir dos seus líderes o compromisso desse combate.