Surpreendentemente, Rui Rio venceu as eleições diretas no PSD, mesmo não tendo os notáveis de sempre com ele, nem os presidentes das distritais mais poderosas, nem os próprios deputados de um grupo parlamentar que já era seu, e por pouco mais de dois mil votos, sobretudo oriundos do Porto e de Braga.

1. Paulo Rangel estava demasiado confiante na vitória, acreditou que o destino lhe estava reservado, porque “à terceira seria de vez”, mas à terceira não foi de vez e Paulo Rangel não conseguiu de novo ser eleito presidente do PSD.

As eleições não se ganham com os comentadores, os líderes de fação e o Twitter. As eleições ganham-se com os militantes e Rui Rio provou que há militantes no PSD que não foram na cantiga do homem presidencial que vem de Bruxelas e resolve o que há muito não tem conserto no centro-direita.

Ao escolherem Rio, os militantes do PSD, sabedores da inclinação à esquerda do próprio Rio, optaram pelo caminho do bloco central. E é isto que vai a eleições no dia 30 de janeiro. Votar em Rio é votar em António Costa e, portanto, haverá todo o espaço para o crescimento de partidos como o Chega e a IL.

E essa é uma das razões porque neste momento Rio, que era tão amigo do Chicão do CDS, já anda a fugir de uma coligação pré-eleitoral com este partido como “o diabo foge da cruz”.

O problema é que Portugal não é a Alemanha, ou outro país da Europa central, e uma grande coligação de governo ao centro vai aprofundar as clivagens no país, favorecer clientes e aumentar a corrupção e o compadrio.

Este é um país que tem já vindo a crescer em todos os níveis e índices de corrupção, segundo a autoridade Transparency International. Mais. O índice de Perceção de Corrupção em Portugal está num nível muito elevado, daí que esta solução seja pouco credível, podendo até manchar o segundo mandato do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente que tudo fez para dar conforto ao Governo da geringonça é o mesmo Presidente que vai exigir um acordo parlamentar entre PS e PSD com expressão ao nível da formação de Governo.

Costa irá seguramente manter as pastas políticas e de controlo das polícias e das forças de segurança, que diga-se são pouco controladas, e a Rui Rio será lançado o isco em jeito de desafio de para ficar com as finanças públicas e/ou a recuperação da economia.

O líder do PSD não se candidata a próximo primeiro-ministro. Esta será, aliás, a primeira vez que um líder do PSD – pelo menos assumidamente – desiste de ir à luta e fica-se pelo lugar secundário, pela medalha de prata, pelo segundo lugar no pódio, quando devia ter outras aspirações e procurar ser alternativa a um Governo que a todos os títulos deixou o país pior do que o encontrou.

Ou será que a liderança do PSD assumiu que o centro-direita nunca poderá ser maioria? Possivelmente este será o melhor cenário para o Chega e a IL. O primeiro tem condições para ter um grupo parlamentar de 15 a 18 elementos, e a IL poderá quintuplicar o resultado das legislativas anteriores. Estes dois partidos vão ocupar o lugar do CDS e navegar nas águas turvas do PSD.

2. Tornar a vacina anti-Covid obrigatória no espaço europeu será mais um tema fraturante que a UE não precisa. Há governos que falharam claramente na comunicação da mensagem por vontade própria ou por incompetência. Entre nós, deveríamos estar concentrados em administrar a dose de reforço.