“O trabalho dignifica o homem.” – Max Weber

Apesar de muitas vezes sonhar com a reforma, confesso que também me questiono como iriei ocupar o meu tempo quando deixar a minha atividade profissional.

O unretirement consiste em voltar ao trabalho, em formato integral ou parcial, por escolha ou por necessidade, depois da idade da reforma.  É uma tendência crescente e que tem por detrás várias motivações. Desde necessidade financeira (65%), a realização pessoal (36%), a natureza do desafio (18%), ter acesso a benefícios (17%), a procura de reconhecimento (17%), a socialização (15%), a segurança (14%) ou a aprendizagem. Em suma, de forma geral, as grandes motivações são de natureza financeira ou emocional.

Os benefícios emocionais estão geralmente associados ao facto da nossa atividade profissional constituir uma fonte de convívio social significativa. Com o envelhecimento, os nossos círculos sociais tendem a diminuir e, hoje, é expectável viver 20 ou 30 anos depois da idade da reforma. Assim, para muitos, a expectativa de ficar sem um propósito, sem sentido de realização e fontes de autoestima, e, acima de tudo, sem um pretexto de convívio diário é motivo para considerem estender a idade de atividade profissional como forma de mitigar estas dimensões.

Em Portugal, com a crescente pressão de escassez de trabalhadores devido à nossa demografia envelhecida, soluções flexíveis de reforma poderiam resultar em alternativas inteligentes  a uma solução de reforma binária – tudo ou nada. O mundo do emprego tem vindo a sofrer alterações profundas desde a pandemia, e esta será mais uma dimensão a considerar.

As empresas precisam de fornecer opções capazes de satisfazer as necessidades destes indivíduos se quiserem capitalizar sobre este novo pool de talento. Por outro lado, precisamos de ultrapassar o preconceito ou discriminação de idade (em inglês, agesim) que está enraizada na nossa sociedade. Em Portugal, ainda é frequente ouvir empresas a classificar potenciais candidatos como “velhos”. Por vezes, esses “velhos” têm 40 ou 50 anos de idade…

Para um país tão envelhecido, esta prática discriminatória afasta muitos indivíduos de qualidade e com competências várias. Com uma demografia e escassez de trabalhadores, poderíamos aprender com o Japão em que 64% dos reformados retorna ao mercado de trabalho.

As empresas que contratam trabalhadores mais maduros têm vantagens tangíveis e mensuráveis. Os trabalhadores experientes apresentam competências e conhecimento institucional que faltam aos mais jovens. Trabalhadores seniores podem ser fonte de mentoria e de coaching a colaboradores mais jovens. Aliás, existem várias evidências que demonstram que a diversidade nas equipas resulta em maior produtividade e satisfação.

Os trabalhadores altamente qualificados (41%) e os trabalhadores menos qualificados (39%) são aqueles que têm maior probabilidade de regressarem ao mundo do trabalho após a reforma. Um possível argumento para este facto é que enquanto os trabalhadores menos qualificados podem regressar por motivos financeiros, os mais qualificados regressam por motivos de realização pessoal.

O unretirement é um tema de alguma complexidade, mas tem muito potencial para criar valor para empresas, indivíduos e para a sociedade. Requer alguma adaptação por parte das organizações e uma mudança de mindset que leve a criar soluções mais inclusivas para pessoas com mais idade, mas pode constituir uma ferramenta nova no arsenal de captação e de gestão de talento diferenciado que será sempre um tema de pertinência empresarial.