Esta semana os Bombeiros Voluntários saíram à rua em protesto. E o que pediram eles? Cansados do abandono a que se dizem votados, que inclui edifícios degradados, viaturas obsoletas, ausência de equipamento de protecção individual e corporações sem condições, pedem incentivos ao voluntariado e um comando autónomo.

Na base do protesto desta semana estão as propostas aprovadas na generalidade pelo Governo no passado dia 25 de Outubro na área da Protecção Civil, sendo que aquelas que merecem maior contestação das corporações de bombeiros são as alterações à lei orgânica da Autoridade Nacional de Emergências e Protecção Civil, futuro nome da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC).

A proposta do Governo da Lei Orgânica da actual ANPC prevê a criação de cinco comandos regionais e 23 sub-regionais de emergência e protecção civil em vez dos atuais 18 comandos distritais de operações e socorro, além da criação de um Comando Nacional de Bombeiros com autonomia financeira e orçamento próprio.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses acusou o primeiro-ministro de montar um lobby sectário e corporativista com a criação da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) que entra em funcionamento em Janeiro de 2019 e que faz a gestão de cerca de 180 milhões de euros, isenta de concursos, e que já abriu 200 lugares para técnicos.

Se o desprezo pelas suas reivindicações se mantiver, as corporações preparam-se para se desligar do Estado e deixar de obedecer à nova cadeia hierárquica. Mas se os bombeiros sentiam que estavam a ser maltratados, três dias depois da manifestação receberam outro rude golpe. A proposta do PSD de atribuição de um complemento extraordinário para as pensões dos bombeiros incapacitados no combate aos incêndios foi chumbada. E quem chumbou? PS, Bloco de Esquerda e PCP chumbaram a proposta, enquanto PSD e CDS votaram a favor. Pois é, depois da tragédia dos incêndios de 2017 é esta a surpreendente resposta do Governo.

Esta decisão é ainda mais extraordinária quando, na mesma semana, vemos o Bloco de Esquerda lutar ferozmente pelos estivadores, ao ponto de um deputado ter sido preso na greve em Setúbal. E, passado dias, o mesmo partido decide tomar a decisão de não aprovar o complemento extra para as pensões dos bombeiros incapacitados no exercício do dever. Será o tremendo peso dos sindicato a falar mais alto na mira dos futuros votos nas próximas legislativas?

No próximo Verão, quando os fogos deflagrarem como é habitual, e vidas humanas, habitações, território, empresas e animais se perderem, recorde esta semana de Novembro, quando 3.000 operacionais e 750 carros saíram à rua a exigir melhores condições e que não só viram os seus pedidos ser ignorados, como o Governo recusou aumentar as pensões aos bombeiros incapacitados.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.