A urgência climática atrai o imperativo da sustentabilidade transversal, desafiando o modo como produzimos, consumimos e tomamos decisões. A relação simbiótica entre os fatores ambientais e sociais, que exigem porventura mudanças de governança, não são uma visão económica ou mais uma ideologia dentre outras opções, sujeitas a tendências de popularidade. São demonstrações científicas de uma realidade que, para ser revertida – ou no mínimo controlada – requer mudanças a nível individual, público e corporativo.

Instabilidades geopolíticas como as que enfrentamos agora não diminuem a urgência climática nem têm o poder de reduzir graus no cenário do aquecimento global, muito pelo contrário: impactam diretamente na direção contrária, por meio da relativização da informação científica.

A reação de relativizar o imperativo categórico da sustentabilidade acontece sobretudo por falta de informação factual, ou seja, informação do tipo que só as ciências produzem (ciências naturais, ciências sociais, ciências aplicadas, etc.). Lembremos o que faz a ciência ser confiável: métodos rigorosos para produção de conhecimento revisão e avaliação dos resultados por outros especialistas, reprodutibilidade ou capacidade de replicar os experimentos para ver se obtém resultados consistentes, transparência e disponibilização dos dados brutos para verificação independente, capacidade de autocorreção e aprimoramento… além da ética e integridade.

Corolário da ciência, o Acordo de Paris traduz justamente os alertas cientificamente apurados em ações a ser tomadas em conjunto, em cooperação, nomeadamente:

(i) limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos das mudanças climáticas; (ii) aumentar a capacidade de adaptar-se aos impactos adversos das mudanças climáticas e fomentar a resiliência ao clima e o desenvolvimento de baixas emissões de gases de efeito estufa, de uma forma que não ameace a produção de alimentos; e (iii) promover fluxos financeiros consistentes com um caminho de baixas emissões de gases de efeito estufa e de desenvolvimento resiliente ao clima (artigo 2º do Acordo de Paris).

Os efeitos nefastos do aquecimento global, nas pessoas e no ambiente,  logo, na forma como sobrevivemos, desconhecem fronteiras – não sou eu que vos digo, é a ciência nas suas mais diversas vozes competentes e com os métodos rigorosos de apuração da informação. Sair do Acordo de Paris, como anunciaram agora os Estados Unidos, é, portanto, negar a ciência e, mais do que isso, é ignorar que os seus efeitos são globais e exigem esforço conjunto. É falta de empatia, sim, mas também de inteligência. Ser um país rico não é certificado de imunidade aos efeitos climáticos, que não são locais ou isolados. Mas a decisão anunciada não é surpreendente, vinda de Donald Trump. É absolutamente coerente com as demais decisões do presidente norte-americano.

A ciência jamais deveria ser afastada de qualquer tomada de decisão, sobretudo em cenários instáveis. O que governos – como o recentemente eleito nos Estados Unidos – fazem é, justamente, afastar a preocupação científica em prol de um egocentrismo nacional e uma mentalidade de urgência económica a curto prazo. Mas, para serem bem-sucedidos nesse propósito, precisam de proliferar informação incorreta e fomentar a histeria coletiva.

Em tempos de riscos altamente diversificados na sua natureza (social, ambiental, geopolítica) é assustador o facto de que, a curto prazo, o maior risco a que estamos expostos seja o da desinformação e informação incorreta. Assusta, mas não surpreende. Explico: de acordo com o relatório The Global Risks Report 2025, do World Economic Forum, logo após este risco principal da informação vêm os efeitos climáticos extremos. A longo prazo, a combinação destes riscos culminará em cenários catastróficos ambientais. Que, não nos iludamos, tem consequências diretas sociais e económicas.

Haverá impactos económicos (contratuais, públicos e privados), certamente, resultantes deste posicionamento do segundo país que mais emite gases de efeito estufa e é uma potência financeira. Por isso mesmo, para lidarmos com essa realidade e tomarmos decisões eficientes, assim como com outros tantos eventos relevantes de instabilidade geopolítica a acontecer, precisamos de racionalidade científica.

Concentremos os nossos esforços em estudar soluções e parcerias que acelerem o caminho que está a ser trilhado e é cientificamente comprovado: redução de gases de efeito estufa, preservação dos recursos naturais, adaptação, redução das desigualdades sociais, governança transparente e centrada na responsabilidade ética.

Alarmismo sem factos é histeria. A urgência científica, por outro lado, é certa. Resta-nos escolher qual o guia das nossas ações.