Em Portugal, uma mulher em idade fértil tem, em média, apenas 1,4 filhos. Já foi pior. Em 2013, esse mesmo indicador (Índice Sintético de Fecundidade) situava-se em 1,2. No entanto, estamos muito longe dos valores necessários para assegurar a manutenção da população e o ritmo de substituição de gerações (2,1 filhos). A média na União Europeia situa-se nos 1,53.
Existem diversos fatores que contribuem para esta realidade. De natureza social e económica.
No campo social, há uma alteração significativa do papel da mulher na sociedade. O nível de escolaridade teve um significativo incremento e hoje, felizmente, as mulheres apresentam-se com um nível de preparação e de ambição quanto ao desempenho de papéis e funções que eram tipicamente confiadas a homens. Ou seja, desde o pós-Grande Guerra, no século passado, a população ativa alargou-se com a chegada da mulher ao mercado de trabalho, hoje, cada vez mais, de igual para igual.
No campo económico, sente-se a pressão sobre a natalidade. Com um grau de exigência significativamente maior relativamente às condições a proporcionar às crianças, ter filhos a que se possibilite uma vida condigna, articulada com a exigência do quotidiano do trabalho dos progenitores, é caro. É caro encontrar suporte para cuidar dos filhos enquanto os pais trabalham, em todas as dimensões: nos cuidados, na educação, nas tarefas domésticas.
Os adultos em idade fértil estão mergulhados na vida ativa. Naquela que trabalha e que gera rendimentos que fazem andar o país para a frente. Porque pagam impostos, que são a receita do Estado. Porque têm disponibilidade para cuidar dos familiares mais idosos que vão precisando de cuidados de saúde e de assistência nas diversas dimensões. Porque são os que participam no desenvolvimento económico e empresarial. São o grande motor da sociedade.
Reduzir hoje a população infantil é hipotecar as gerações de vida ativa de amanhã. Em Portugal, em 1980, a população com mais de 65 anos representava apenas 11,3% do total. Hoje, representa 22%. Enquanto que os jovens com menos de 15 anos passaram de 25,8% para 13,6% no mesmo período.
E, se analisado por regiões, a urgência sobre a necessária atuação das autoridades e das Instituições no que respeita ao tema da demografia é ainda maior. O Índice de Dependência de Idosos (idosos por cada 100 pessoas na vida ativa) em Portugal é de 34,2 (era de 24,4 no início do século). Mas, o nível de assimetria regional desta dependência é gritante. No concelho de Alcoutim, no Algarve, esse número cifra-se em 98. E em Vinhais, é de 82, apenas para ilustrar. Por cada 100 pessoas na vida ativa, naqueles concelhos, existem 98 e 82 idosos para cuidar, respetivamente.
A pirâmide etária já não é pirâmide. É antes uma estrutura frágil, cujo progresso foi corroendo na base, e que urge de cuidados intensivos de reorganização da sociedade, de apoio de organizações que emergem da sociedade civil no complemento ao papel do Estado, de modo a serem encontradas as soluções adequadas às necessidades da população de idade ativa. Que as ajudem. Que as suportem na sua árdua tarefa que todos os dias têm pela frente de gerar valor, de cuidar, de fazerem o país andar para a frente, de desenvolver. A tal classe média que tudo faz e que tudo paga. E que quase não tem tempo para viver.