O termo Economia nasceu na Grécia Antiga e significa algo como Gestão da Casa (Oikos=Casa). O termo Ecologia tem a mesma raiz etimológica (Oikos+Logos) e significa Ciência/Conhecimento da Casa. É a “Casa Comum” da Encíclica do Papa Francisco, que não inclui só os Homens. A Economia, para cumprir o seu grande objectivo, devia estar totalmente em sintonia com a Ecologia, pois a Casa dos Homens faz parte do ecossistema.

A absoluta necessidade de inverter o rumo do modelo de desenvolvimento pós-revolução industrial, mormente na sua face perversa (tem também aspectos muito positivos) de gerar inúmeras assimetrias sociais, impactos ambientais irreversíveis e desperdícios de vária ordem, leva a que os conceitos de Economia e Ecologia se tendam a fundir.

Se cumprirmos os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030, tal fusão ocorrerá, pois significa abandonar a arrogante visão antropocêntrica e, com humildade, reconhecer que somos parte importante de um ecossistema que nos presta inúmeros serviços.

Se atribuíssemos verdadeiro valor económico e tivéssemos que pagar pelo Ar que respiramos ou pagar mais pela Água que consumimos e desperdiçamos, mais rapidamente nos aperceberíamos da importância de um modelo de desenvolvimento próspero que reconhece a interdependência entre as áreas Ambiental, Social e Económica.

A visão pode parecer utópica e romântica. Tudo bem, visto-lhe a “pele” e como economista e ecologista continuarei a defender tal (im)possibilidade.

No GreenFest, celebramos há 12 anos estes princípios e pugnamos por uma sociedade mais justa e equitativa, proporcionando espaços de debates e partilha inspiradora das melhores práticas nos diferentes domínios ambiental, social, cultural e económico. É uma plataforma aberta, plural e inclusiva, sem “cores” partidárias ou bairristas.

Visitar ou participar no evento que tem inúmeras actividades para diferentes públicos e grupos etários, é uma oportunidade única de interagir com modelos de negócio inovadores. Constata-se que há uma economia verde e uma economia azul emergentes, que criam postos de trabalho e geram valor para a sociedade. De igual modo, confirma-se que a economia circular é possível e desejável.

No final de cada evento, saímos com uma gratificante sensação de optimismo e esperança no futuro. Os muitos jovens e seus familiares que nos visitam, para além das empresas e organizações, saem com um acrescido “brilho nos olhos” e vontade de protagonizar o papel de agentes de mudança nas comunidades onde se inserem. É um desafio civilizacional e intergeracional que enfrentamos!

Faz sentido persistir no modelo que gera profundas ineficiências? Deveremos continuar a desperdiçar mais de um terço da água potável nas nossas cidades, ou as enormes perdas alimentares, da semente ao descarte, ou a gritante ineficiência energética dos edifícios e formas de construção, ou desigualdades sociais que incluem a pobreza, ou as indústrias “selvagens” que comprometem o ambiente?

E o que dizer do capital humano? Quantas pessoas estão subaproveitadas ou desvalorizadas nos seus empregos e nas comunidades em que se inserem? As oportunidades de melhoria são enormes e estou absolutamente convicto que com educação, investigação e desenvolvimento, podemos criar um novo modelo de prosperidade. Nunca como agora tivemos tanta tecnologia disponível, que se for correctamente aplicada tem o poder transformador e de reconexão com a nossa essência que é a Natureza.

 

Pedro Norton de Matos, organizador do GreenFest que decorre em junho, em Braga, e em outubro, em Cascais, escreve sobre a relação entre a Economia e a Ecologia no âmbito do Dia Mundial da Terra.