Não leva açúcar porque é feita com a redução do mosto da uva com maior grau. Dizem os entendidos que as melhores castas para o efeito provêem das uvas Fernão Pires, Periquita ou Santarém.
O mosto concentrado é denominado de “arrobe”, um produto que era utilizado como substituto do açúcar e que se juntava a vários pratos, por exemplo, às papas de milho. Mas, para a verdadeira uvada, em particular a de Alenquer, onde é mais famosa, com grande proveito nosso, não bastam as uvas. Deve-se juntar, como há cerca de 40 anos, o pero ‘Focinho de Coelho’. Hoje é mais difícil, e recorre-se ao pero Bravo de Esmolfe. Peros, peras, abóbora menina ou outros frutos, tudo pode ir ao fogo com as uvas, até redundar numa espécie de marmelada. Junte-se logo cravos de cabecinha e canela em pau. E aí temos a insubstituível uvada, que costumava ser confecionada no final das vindimas, na casa do patrão, quando algumas trabalhadoras deixavam o campo e eram destacadas para a cozinha para essa doce tarefa; ou durante a própria vindima, na casa das famílias com menos possibilidades, depois da ‘jorna’. Após várias horas de laboriosa e precavida preparação (tem de se mexer sempre o tacho para a compota não pegar e é preciso estar atento aos ‘espirros’ que saltam do recipiente), temos um achado da doçaria nacional.
A cidade-presépio de Alenquer tem também este motivo para ser visitada. Os Doces da Celeste ou Doces d’Arada têm das melhores uvadas do país, entre outras compotas genuínas e requintadas. A uvada é um doce que se conserva de um ano para o outro, é consumida no pão ou com frutos secos. Na região Oeste, o Natal é uma das épocas do ano em que muitas famílias colocam a uvada nas suas mesas.
Os Doces d’Arada têm na uvada, ou doce de vinho, um dos seus ex-líbris. Este doce é feito a partir do mosto logo após o esmagamento das uvas na adega, ao qual se adiciona a(s) referida(s) fruta(s), durante um longo processo de cozedura em fogo lento (cerca de 18 horas) e sem quaisquer outros ingredientes. “É um testemunho de uma economia frugal, de tempos em que as famílias viviam essencialmente do que produziam nas suas terras”, sublinha um folheto da Doces d’Arada. A empresa resume a sua uvada de uma forma linear: “é uma delicada compota, de sabor algo exótico, excelente para acompanhar, por exemplo, com requeijão, devidamente polvilhado com canela”. Pela forma como é cozinhada, a uvada d’Arada, se conservada em ambiente arejado e seco, está em condições de ter uma longa duração.
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