Na hora em que escrevo estas linhas, existe uma enorme vontade de acabar com esta clausura entre quatro paredes. Cada vez que nos situamos no tempo e nos damos conta de um mês de confinamento, o achatamento da curva de crescimento do número de casos positivos e a possibilidade de não renovação do estado de emergência, toca música celestial nos nossos ouvidos.

Mas, num abril chuvoso, é melhor tirar o cavalinho da chuva. É uma recessão. Das fortes. Os académicos norte-americanos não se coíbem de elevá-la à categoria de depressão. Nunca vista. Nem mesmo na Grande Depressão de 1929, “The Big One”.

Nas mais recentes estimativas publicadas para a evolução da economia global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avança com um recuo do Produto Interno Bruto (PIB) global em 3% (na crise financeira de 2009, a contração foi de apenas 0,1%). Mas com um efeito inédito: haverá recessão em todas as geografias, sem exceção. E o espaço da União Europeia será aquele que vai assistir a uma maior contração do PIB, com uma queda de 7,1% para o ano de 2020. Se considerada a zona euro, essa queda acentua-se para 7,5%. Para Portugal, a instituição liderada por Kristalina Georgieva prevê uma queda do PIB em 8%.

Não há dúvida que a queda ocorrerá. E, de forma mais pronunciada, nos países que dependem mais do turismo na formação da riqueza: Áustria, Croácia, Espanha, Portugal, Grécia, Itália serão países particularmente afetados, com os seus PIB de 2020 a caírem entre 7 e 10%.

Mas, também nesta edição do World Economic Outlook do FMI, são avançados pressupostos de uma progressiva recuperação da atividade económica no segundo semestre. Afinal, a economia mundial retrairá durante este período “apenas” o equivalente à riqueza gerada num ano pelo somatório das economias da Alemanha e do Japão, ou seja, cerca de três triliões de dólares. A recuperação que sucederá projeta o crescimento económico global para 5,8% em 2021. Para Portugal, o FMI prevê que, depois da tempestade venha a bonança, com um crescimento estimado de 5% já no próximo ano.

Portanto, uma clássica recessão em “V”. Como, aliás, terá sucedido (embora numa dimensão incomparavelmente mais suave) na primeira Guerra do Golfo, em 1991/92. Temia-se que a intervenção das tropas norte-americanas no Iraque desencadeasse um conflito global. Uma Terceira Guerra Mundial. Só as imagens televisivas da CNN, a comprovar o avanço da ofensiva sem qualquer reação digna de registo, vieram repor a confiança junto dos agentes económicos. E a rapidez com que tudo sucedeu permitiu esse efeito “V”.

Transpostos para a atualidade, a vontade que todos temos do efeito “V” vai depender da rapidez com que assegurarmos o regresso à (possível) normalidade, mas sobretudo à reposição da confiança. E se a confiança é a base do relacionamento entre pessoas, também o é na economia. Sublinhado especial para as atividades turísticas. Ninguém viajará em lazer até que esteja seguro. Por isso, o que será o “V” de alguns, será o “U” de outros.

Tudo tem de ser feito com ponderação. Com o objetivo de transmitir confiança a todos. A retoma da atividade tem de ser bem planeada evitando as tão temidas “recaídas” (o efeito “W”), o que nos mergulharia numa crise “bíblica” (palavras de Mario Draghi).

Ainda há demasiados “ses” no horizonte. “Se” o antídoto. “Se” a vacina. “Se” as temperaturas mais quentes no verão. “Se” não houver mutação… Quando o nosso computador bloqueia, o nosso reflexo imediato é fazer “shutdown”, na esperança de que normalize após reiniciar. “Se” nada mais o tiver impedido de voltar a si. Assim como veio depressa, que passe depressa. Que assim seja.