Sempre tive uma relação complicada com férias desde que entrei para o mundo do trabalho, logo após terminar a universidade.
O meu primeiro emprego tinha tantas responsabilidades e era tão intenso que raro era o dia em que saía do escritório sem me sentir esgotada. Durou dois anos, mas foi o suficiente para iniciar uma relação pouco saudável com férias. Desenvolvi tendências de workaholic, ao ponto de me sentir mal, angustiada ou cansada só de pensar na ideia de tirar férias. “E se as coisas correm mal na minha ausência?”, “Conseguem dar conta do recado?” eram pensamentos obsessivos, mesmo em dias de folga.
Quando ingressei no mundo editorial, o meu workaholismo multiplicou-se de uma forma pouco saudável. O facto de adorar o trabalho que fazia tornava-me incapaz de desligar. As responsabilidades iam aumentando a um ponto em que havia um ritual inteiro uma semana antes das minhas férias, em que começava a sentir-me angustiada por ter de garantir que tudo era cumprido na minha ausência, sem falharmos prazos.
Escusado será dizer que as férias em si não eram gozadas em pleno. Havia viagens que se encaixavam em três a cinco dias, mas a verdade é que, por mais que gostasse dessa fuga para outros países, era esgotante, para uma pessoa que já chegava cansada, ter a energia para conhecer uma cidade em poucos dias.
Depois, claro, vinha o sabor amargo de fim de férias. Houve um período em que tudo o que desejava era voltar à rotina do trabalho e mergulhar nela de forma desenfreada. Claro que isso acabou por ter custos para a saúde física e mental, conduzindo a um burnout.
Hoje em dia adotei hábitos mais saudáveis. Durmo mais, defino o meu próprio horário de trabalho, paro quando tenho de parar, trabalho no âmbito de uma verdadeira equipa. Não trabalho menos, mas trabalho melhor, o que tornou as férias mais tranquilas.
Agora que estamos no período de férias, observo os mesmos padrões pouco saudáveis à minha volta. Nestes tempos em que estamos mais física e mentalmente debilitados, após a Covid-19, e ainda lidamos com a instabilidade económica de uma guerra inesperada, a necessidade de desligar e abrandar é maior do que nunca. O problema é que escolhemos fazê-lo num espaço de tempo demasiado curto, o que só torna frustrante toda a experiência de férias.
Queremos ir a todos os lugares e encaixar todas as experiências possíveis com filhos, família e amigos, de modo a desfrutar da sensação de férias, mas, na realidade, vivemos numa espécie de contrarrelógio, tornando toda a experiência de regresso ao trabalho absolutamente excruciante.
Tenho consciência de que as sociedades europeias ocidentais são, na sua maioria, privilegiadas pelos seus trabalhadores poderem usufruir do direito a um determinado número de férias por ano, mas talvez não precisemos todos de sucumbir à pressão social de tirar “férias paradisíacas” quando o corpo e a mente pedem descanso.
É impossível ignorar um cansaço coletivo que agora se manifesta mais do que nunca. Na impossibilidade de alcançarmos, atualmente, ritmos de trabalho mais saudáveis, importa ajustar o tempo de férias às nossas reais necessidades, e não àquilo que se espera socialmente de nós. Talvez assim não sejamos atormentados com a necessidade de “tirar férias das férias”.