No meu último artigo, referi que uma das características peculiares do turismo é o papel especial que as expectativas desempenham, porque o turista sonha com a sua viagem antes de concretizá-la. Em virtude disso, defendi que a promoção turística deveria criar no potencial visitante uma imagem do destino que fascine, mas não iluda.
Um outro traço distintivo do sector é a sua relação com o território: turismo em Portugal só se faz… em Portugal! A impossibilidade de deslocalização é uma óbvia vantagem, mas constitui, por outro lado, um desafio. Costuma dizer-se que, se Maomé não vai à montanha, a montanha vai até Maomé. No turismo, não é possível. Um destino turístico não é algo passível de ser levado ao consumidor. Tem de ser o consumidor a vir ao encontro do destino. Nos últimos anos, os responsáveis pela promoção do turismo português apostaram em trazer jornalistas e profissionais da comunicação para conhecer o país e escrever sobre ele e, com isso, motivarem mais gente a cá vir. A estratégia – que não foi exactamente uma novidade, já havia sido seguida há um século pela Sociedade de Propaganda de Portugal – revelou-se acertada e, segundo o Fórum Económico Mundial, melhorámos consideravelmente no indicador que lhe diz respeito. De facto, os elogios são bastante mais credíveis quando não é o próprio a fazê-los.
Redes sociais e sites como o TripAdvisor tornaram-se local privilegiado para obter informações e fazer comparações, quando se trata de escolher o próximo local de férias. As opiniões e os conteúdos dos cidadãos comuns têm hoje grande influência na decisão sobre os destinos de viagens e foi a pensar nisso que o Turismo de Portugal convidou os portugueses a realizar pequenos filmes sobre a oferta turística do país, numa campanha chamada “Ponha Portugal no Mapa”.
Ora, há uns dias, foi notícia que Portugal é o segundo país da Europa com mais emigrantes em percentagem da população. Não é propriamente surpreendente. Depois da grande vaga de emigração dos anos 60/70, voltámos a ouvir falar da saída de portugueses, sobretudo para outros países europeus. Mas este novo fluxo migratório é mais qualificado, o que significa uma perda importante de capital humano, para além das consequências demográficas que se adivinham. Tentemos, contudo, aproveitar o que há nisto de bom.
Alguns estudos estabelecem a ligação positiva entre emigração e turismo. Em 2013, Rossana Santos, na sua tese de doutoramento, concluía que uma boa parte dos emigrantes portugueses deseja regressar e investir no sector. Por outro lado, como referido em vários trabalhos, antes do eventual retorno definitivo, quem emigra volta frequentemente ao país de origem na qualidade de turista e do tipo que mais tempo permanece e que mais fiel é ao destino. Mas, mais importante a meu ver, cada um dos 2,3 milhões de portugueses emigrados é um potencial embaixador do país. Sobretudo quando a afabilidade do nosso povo é, creio eu, uma das vantagens competitivas que o nosso produto turístico tem. É fundamental, pois, que não desperdicemos este recurso na construção da tal imagem cativante, mas realista, pois, apesar de sermos um destino na moda, continuamos a não ter a mesma visibilidade dos nossos concorrentes.
A autora escreve segundo a antiga ortografia.
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