Apesar dos percalços iniciais, nomeadamente sob a forma da ‘chico-espertice’ de alguns que tomaram a vacina fora do tempo próprio, as últimas semanas têm sido marcadas por um ritmo crescente de inoculações contra a doença pandémica. Vale a pena relembrar que foi a solidariedade europeia, sob a forma de escrutínio, negociação e aquisição em conjunto para os países da União Europeia, que permitiu a pequenos países, como Portugal, terem acesso, em tempo útil e em valores comportáveis, às vacinas.

E descontando a política agressiva, proteccionista quanto à produção, proibição de exportações e injecção de centenas de milhões nas farmacêuticas com o fito de assegurar abastecimento privilegiado, que encontramos nos Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Israel e mais um par de países, a vacinação europeia tem seguido um rumo paulatino que terá que contar com a participação cívica dos portugueses.

Todos temos o dever cívico de tomar a vacina, face às evidências científicas conhecidas ao dia de hoje. Fazer uma pausa ou abrandar o ritmo de vacinação é escancarar a porta a uma quarta vaga e comprometer a recuperação económica.

Não deixa de ser curioso de observar a vocalização de certos grupos profissionais, na ambição que os seus membros sejam vacinados. Outros, essenciais, prestadores de verdadeiro serviço público e expostos a contacto com o público, têm sido bastante mais comedidos nos seus pedidos. Pois que impera um dever cívico e sentido de responsabilidade, quando há grupos de portugueses mais frágeis, mais doentes ou mais idosos a quem deve ser dada prioridade.

Bancários, carteiros, pessoal de manutenção de infra-estruturas de água, luz, aquecimento, professores e demais profissionais da educação, também eles devem ser vacinados, assim que os mais necessitados tenham sido atendidos.

Com tudo isto dito, vale a pena recordar como em Portugal uma parte desproporcional do embate da crise tem estado não no Orçamento Geral do Estado, mas nas empresas (que mantêm o emprego e uma parte significativa dos custos), nos trabalhadores (que em lay-off perdem parte de suas remunerações) e nos bancos que concederam moratórias privadas para os créditos de empresas e particulares aos seus clientes. Com a perigosa originalidade portuguesa de não existir garantia estatal para estas moratórias, ao arrepio do que acontece na generalidade dos países da OCDE.

Os Estados Unidos, a China e um punhado de outros países perceberam, quer através da produção e inoculação massiva de vacinas, quer pela prestação de garantias estatais de suporte às moratórias dos bancos, ou distribuição de cheques pela população, que a saúde dos seus cidadãos, a capacidade creditícia e os capitais próprios dos seus bancos e a capacidade e a apetência de consumo dos seus cidadãos, são tudo facetas da mesma realidade para uma recuperação incisiva da economia e do emprego. E sem estas, não existe verdadeira independência nacional.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.