Agora que encetamos aquilo que se espera que seja o último episódio do ciclo de confinamentos/desconfinamentos, importa olhar para o que de muito bem fomos capazes de fazer e o que fomos, enquanto sociedade, menos competentes.
Como muito competentes a resposta europeia à crise económica e a capacidade de aprovar medidas de política monetária, económica e sanitária. Dinheiro barato e abundante, moratórias dos créditos, medidas de apoio à preservação de emprego e compra centralizada de vacinas, tudo aspectos que valorizam a União Europeia e que demonstram, de forma exuberante, como seria muito mais difícil a nossa vida fora dela. Um projecto europeu cheio de percalços, mas ainda hoje uma construção histórica, um espaço de paz e de progresso único para os povos da União.
O consenso social e político que se formou, entre Governo, Presidente e partidos, em Portugal, em 2020, aquando da primeira vaga, foi digno dos melhores momentos da nossa centenária história e evitou uma tragédia de enormes proporções sobre o emprego e as famílias. Relembro que na anterior crise (2011-2014), bem menor que esta, a taxa de desemprego foi quase o triplo da actual (e a taxa de sub-utilização do trabalho quase o dobro).
E nenhum Governo, empresa ou trabalhadores poderiam ter feitos planos de contingência, por antecipação, para um cenário de pandemia. Digno da ficção científica, é utopia pensar que poderíamos estar preparados, de antemão. Ninguém poderia, em lado algum do mundo. Simples.
A capacidade de resposta da sociedade civil tem sido notável, ao longo destes treze meses. Empresários responsáveis, sindicatos construtivos, outra face do sentido de missão que a todos nos deve mover em face de uma ameaça nunca antes defrontada. Deixo ao leitor que relembre como para além dos óbvios profissionais da saúde, tivemos muitos outros trabalhadores a desempenhar funções de suporte críticas: bancários, transporte de passageiros, farmácias, supermercados, ensino. Uma lista longa de gente e profissões que tantas, mas tantas vezes, são vituperadas como se a ganância de uns poucos pudesse ser culpa de tantos trabalhadores anónimos.
Tendo vacinado metade da população mais frágil pelo critério dominante da idade, foi com expectativa que assistimos nos últimos fins de semana à vacinação dos docentes e pessoal administrativo e assistente, das escolas básicas e secundárias. Um segundo grupo profissional, logo depois dos da saúde. No que parece também ser um critério razoável de vacinar grupos que desempenham serviço público e que são essenciais para o funcionamento da economia.
Sejamos consequentes e sem tergiversações. Que sejam vacinados todos aqueles que atendem público em serviços essenciais: supermercados, agências bancárias, farmácias, transportes colectivos, restaurantes, finanças, conservatórias, notários, clínicas dentárias. Uma lista decerto longa, mas essencial. Vacinas para quem trabalha na linha da frente, pois claro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.