O comentador Luís Marques interroga-se no Expresso (16FEV19): “E se o Brasil der certo?” E depois deduz a possibilidade de factos e anúncios do governo Bolsonaro. Conclui magistralmente: “Contra muitas previsões pessimistas, pode dar”.

Primeira razão para o optimismo: “Números oficiais divulgados no final da passada semana revelam que a criminalidade no Rio de Janeiro baixou pela primeira vez nos últimos anos”. E, apesar de não confirmado oficialmente, “o mesmo terá ocorrido em São Paulo”. Notável. O homem ainda não deu a cada brasileiro uma arma, embora o seu decreto esteja ‘decretado’ e já a sacanagem reduzia a actividade. Foi atar e pôr ao fumeiro.

Confirmando as boas notícias, o Público (17FEV19) dava conta de um massacre da polícia em favela do Rio de Janeiro. Parece que deram por aprovado o projecto de legislação na forja do ministro juiz Moro – lei anticrime – que quer autorizar “formalmente a execução policial sem julgamento”.

O segundo “motivo de algum otimismo, mais moderado”, “são as previsões económicas”: “Todos os principais analistas apontam para um crescimento real da economia” e etc. E porquê? Na base de “um vasto conjunto de reformas (que) estão a ser apresentadas pelo Governo, a mais importante das quais é a reforma da Previdência”. Ora se isto é assim, só com a apresentação das “reformas”, vai acontecer algo de extraordinário quando passarem à prática.

Mas não era preciso esperar quatro meses para anunciar o milagre da apresentação. Logo após os resultados da primeira volta das eleições, mesmo sem ninguém saber quais eram as reformas de Bolsonaro, a bolsa deu um salto. Como sempre dão, em casos que tais.

Outro motivo “a profunda renovação da classe política saída das últimas eleições (que) alimenta algum otimismo na aprovação da agenda reformista”. E, sinal disso, foi o Governo ter ganho “também a presidência do Senado, derrotando (…) um representante da elite corrupta (…)”. Na troca quem ganhou foi Alcolumbre do DEM, que tem à sua conta o chamado Mensalão do DEM. DEM que lidera um ranking (2000/2007) de cassações (69) de políticos por corrupção eleitoral e que suportou o golpista e corrupto Temer! Boa-vai-ela, a “renovação” da classe política com o reforço das bancadas do boi, da bala e da bíblia, sem esquecer a bancada da família de Bolsonaro…

E na dita “agenda reformista” inclui-se “um ambicioso plano de privatizações”. O alfa e o ômega de qualquer plano “reformista” como já os Chicago Boys tinham ensinado e praticado no Chile de Pinochet. “É neste vastíssimo sector público que assenta o poder da oligarquia corrupta brasileira. Desmantelar esse poder é uma condição importante, embora não única, para que o Brasil dê certo.” Aliás, como sabemos com um saber de experiência feito, as privatizações foram a vacina radical da corrupção económica em Portugal. Nunca mais aconteceu.

Porquê não acreditar que Bolsonaro pode dar certo? Vai dar certo.

Vai dar certo para o latifundiário. Vai dar certo para o grande capital da mineração e do agronegócio na ocupação das terras indígenas. Vai dar certo para o grande capital na intensificação da exploração dos trabalhadores. Vai dar certo para o capital financeiro e multinacional. Para o capital dos fundos de pensões e o capital USA. Vai certamente dar certo! Para o povo brasileiro é que vai dar errado!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.