De acordo com os meus cálculos, o ajustamento orçamental que se iniciou com a chegada da troika já vale, até ao momento, mais de 17 mil milhões de euros (período 2011-2017). O Estado tem-se empenhado em reduzir o prejuízo das suas contas, no entanto tal tarefa não o deveria estar a impedir de cumprir as suas funções essenciais (leia-se sociais).

A troca de governo em 2015 não originou o prometido “virar de página” da austeridade. Os “tostões” que têm sido dados a mais, têm, por outro lado, sido cobrados com aumentos de impostos indirectos, com o sacrifício do investimento público, bem como, com a degradação de um conjunto de serviços do Estado (asfixiados por cativações).

O resultado desta gestão das finanças apresenta sinal positivo nos cofres do Estado, mas o mesmo já não se pode dizer no bem-estar do cidadão comum que paga mais por aquilo que adquire e se depara com serviços públicos de pior qualidade.

É no sector da saúde que os efeitos são mais visíveis. Só quem ainda não esteve numa urgência do SNS, e se limita a olhar para o Excel, ou a realizar visitas aos hospitais para a “fotografia”, é que pode afirmar que está tudo em ordem. E se num dia chegam alertas da Ordem dos Médicos, no outro chegam os da Ordem dos Enfermeiros (já para não falar nas notícias que relatam situações que parecem respeitar a hospitais de campanha em plena guerra).

Para 2018, o Governo assumiu o compromisso de realizar “poupanças” no sector da saúde na ordem dos 166 milhões de euros. Mas será que, quando está em causa algo que é fulcral para a vida dos portugueses, e que não tem estado a funcionar bem, a preocupação maior deverá mesmo ser a de poupar? Ao invés, não deveria ser a de investir? Valerá mais o défice do que a saúde?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.