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Valor residual dos carros usados na Europa e nos EUA perderá até 6,86 mil milhões de euros em 12 meses

Até julho de 2021, os mercados de carros usados na Europa e nos EUA correm o risco de perder um valor residual superior ao que perderem na crise de 2008-2009, alerta a consultora Oliver Wyman.
30 Setembro 2020, 07h35

O mercado de carros usados vai sofrer grandes perdas de valor residual nos próximos 12 meses a contar de julho de 2020, em parte devido ao aumento dos contratos de leasing, alerta a consultora internacional Oliver Wyman, percecionando perdas de valor, nos mercados europeus e norte-americanos, que podem atingir os 6,86 mil milhões de euros até ao final de julho de 2021.

“As perdas adicionais de valor residual das viaturas usadas, geradas pela Covid, aumentarão novamente para níveis semelhantes aos da crise financeira de 2008-2009 devido à queda ocorrida no mercado de carros usados”, prevê a Oliver Wyman. Em 2008, “as perdas adicionais de valor residual rondaram os 4% a 8% e causaram grandes danos no sector”, refere, admitindo que “agora, as perdas de valor residual ainda podem ser maiores”, atingindo, “na Europa e nos EUA, entre seis mil milhões e oito mil milhões de dólares (respetivamente, 5,14 a 6,86 mil milhões de euros) nos próximos 12 meses”.

O declínio anual das vendas de veículos novos na Europa e na América do Norte é estimado pela consultora Oliver Wyman entre 17% e 26%, admitindo que no mercado de carros usados a situação é muito semelhante, atendendo a que a retração até maio foi de cerca de 22% na Europa e 33% na América do Norte em relação ao período homólogo de 2019. No entanto, a consultora refere que “as vendas de carros usados recuperaram mais rápido do que o esperado, principalmente devido à falta de produção de carros novos, resultante da paragem global” das fábricas, ocorrida durante a fase inicial de confinamento.

“O preço médio dos carros usados ​​caiu de 3% a 6% na Europa até agora e a recuperação ainda não está à vista”, alerta a Oliver Wyman. Nos EUA, a pandemia de Covid-19 “provocou uma queda média de preços de até 12%” mas, “desde junho, os preços dos carros usados ​​têm vindo a recuperar devido ao efeito da falta de oferta de carros novos produzidos entre abril e junho, conjugado com a procura contínua fomentada por estímulos governamentais e por pagamentos de subsídios de desemprego, diferimentos de pagamentos de empréstimos e outros programas”, refere a consultora. Também alerta para a inevitabilidade dos “efeitos do estímulo serem finitos” – “a menos que haja uma recuperação económica estável –, pelo que “a procura pode cair, levando a uma nova queda dos preços”.

Analisando outros períodos históricos de grandes contrações económicas, a Oliver Wyman refere que “as quedas nos preços dos carros usados tiveram recuperações lentas até retomarem os níveis anteriores às crises”. A consultora considera que “os preços dos carros usados ​​e, portanto, os respetivos valores residuais, permanecerão a longo prazo, no caso da Europa, ou provavelmente voltarão, no caso dos EUA, em valores inferiores aos níveis da pré-crise e estes mercados de usados só vão melhorar quando a incerteza económica for amplamente mitigada”.

Na perspetiva dos mercados de locação de viaturas, a Oliver Wyman refere que “existem problemas estruturais, designadamente, a rigidez dos prazos dos locadores e a falta de oferta de carros usados ​​no segmento de locação”. Isso evita que os fornecedores de leasing de frotas negoceiem com flexibilidade os carros fora do leasing em modelos de negócios baseados no uso, em vez de canalizarem estas frotas para um mercado de carros usados ​​que já não absorve estas viaturas, destruindo, desta forma, o valor destes carros usados”.

Além disso, a Oliver Wyman diz que o mercado dos serviços de mobilidade partilhada está a mudar, registando uma queda que chega aos 80% no transporte partilhado e os automóveis e scooters também têm menor procura no mercado de alugueres. “A pandemia de Covid tornou os modelos de negócios de serviços de mobilidade cada vez mais difíceis, enquanto o distanciamento social está a promover cada vez mais a mobilidade individual”, adianta a consultora.

Ao mesmo tempo, a incerteza na atividade económica tem vindo a substituir o financiamento automóvel pelo leasing de viaturas, quer pelo prazo tradicional dos contratos de 36 meses, quer pela modalidade de curto prazo que está a ficar conhecida como “subscrição de viaturas” que começam a ser grandes concorrentes dos contratos de locação em regime de leasing, acrescenta a Oliver Wyman, explicando que o nível de interessados na “subscrição de viaturas” aumentou de 28% em 2019 para 38% no ano em curso.

Esta evolução cria condições para flexibilizar os contratos de leasing, aumentando os prazos dos contratos e baixando as rendas aplicáveis, pois a manutenção dos contratos torna-se mais interessante do que a posterior venda das frotas de veículos no mercado de usados, considera a consultora. A alternativa do leasing de veículos usados permite ter contratos com rendas ainda mais baixas, sendo uma solução para os parques de usados que não são vendidos, enquadrada no concento de “Next Best Usage” (NBU) do veículo usado.

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