Nos últimos tempos, temos tido notícia da instalação em Portugal de centros de competências de empresas internacionais. Lisboa foi a cidade escolhida pela Mercedes-Benz para abrir o seu primeiro Digital Delivery Hub, um centro de competências digitais que vai fornecer serviços e soluções globais de software à empresa a nível mundial. No Porto foi inaugurada a Euronext Technologies, centro tecnológico deste grupo europeu de bolsas de valores, e ficou a saber-se que o banco de investimento francês Natixis vai transferir grande parte das suas atividades informáticas para a cidade.
Mais exemplos podiam ser dados, mas os investimentos em causa são reveladores da capacidade de atração do ecossistema de empreendedorismo e inovação português. As empresas que escolheram o nosso país para instalar os seus centros de competências não o fizeram somente pelo sol, pela comida, pelo baixo custo de vida, pela segurança, pela simpatia das pessoas ou pela beleza do país. Fizeram-no, isso sim, porque há hoje em Portugal massa crítica de excelência nas áreas tecnológicas e um grande dinamismo ao nível do empreendedorismo tecnológico.
Um olhar mais cínico verá neste tipo de investimentos apenas a procura de quadros especializados com salários mais acessíveis do que na generalidade da Europa e EUA. Mas não creio que o nível salarial seja um fator determinante, caso contrário estaríamos a assistir em Portugal ao que se passa na Índia, que exporta milhares de técnicos de software todos os anos. Ora, as empresas internacionais preferem instalar aqui os seus centros de competências exatamente por perceberem que no nosso País existe, acima de tudo, o ambiente ideal, com todas as características essenciais para terem sucesso.
As empresas internacionais que instalam centros de competências em Portugal procuram, de facto, um ecossistema que crie valor para as suas atividades. Para além de jovens altamente qualificados, querem projetos de I&D com universidades, acesso a centros de inovação, facilidades de transferência de tecnologia, boas incubadoras/aceleradoras, fornecedores de qualidade, oportunidades de parceria empresarial, redes de networking internacionais, contactos com investidores e um bom mercado para testar produtos. Enfim, desejam usufruir de todas as valências de um moderno ecossistema de empreendedorismo e inovação.
Perante a necessidade de atrair investimento estrangeiro, Portugal deve ser capaz de promover de forma mais intensa e eficaz as qualidades do seu ecossistema de empreendedorismo e inovação. Temos orgulhosamente que nos deixar de falsas modéstias e assumir que somos bons, que temos hoje um ecossistema moderno e atrativo que fomenta a criação de valor. A vinda da Web Summit para o nosso país foi, naturalmente, um passo gigantesco nesse sentido. Mas não podemos dormir à sombra de um evento que se realiza uma vez por ano, independentemente do seu imenso potencial de promoção do ecossistema. É necessário um trabalho sistemático de valorização do ecossistema junto dos players internacionais: empreendedores/inovadores, investigadores, mentores, aceleradores, investidores, multinacionais e decisores políticos.
Esta tarefa cabe não apenas às entidades públicas mas também às associações empresariais, às universidades, aos institutos de I&D, aos centros tecnológicos, aos parques industriais e às próprias empresas. Trata-se de um trabalho alargado que implica, desde logo, estabelecer uma rede de networking com os players internacionais.
Para tanto, o nosso ecossistema tem de estar representado em grandes eventos mundiais de empreendedorismo e inovação, ao mesmo tempo que é fundamental dar a conhecer in loco o nosso ecossistema, com as suas valências e protagonistas. A vinda de players internacionais ao nosso ecossistema, por um lado, potencia a instalação de operações altamente especializadas de multinacionais em Portugal e, por outro, abre oportunidades para acelerar, alavancar e escalar startups nacionais.