Muito se tem falado ultimamente de Inteligência Artificial. Todavia, o tema está longe de ser do conhecimento generalizado e não raramente assistimos a opiniões baseadas no desconhecimento e ceticismo associado ao tema. Frequentemente o tema aparece associado à robotização e à inerente perda de empregos e por isso falar de Inteligência Artificial (IA) parece trazer uma aura de futurismo exagerado em que as máquinas dominam o homem e podem constituir um perigo à sua existência.

De facto, a IA não é mais do que a capacidade que as máquinas têm de aprender e pensar. É um termo que tem mais de 70 anos e foi usado pela primeira vez por referência a aspetos relacionados com inteligência que, podendo ser detalhados no processo de aprendizagem, podem ser simulados por uma máquina.

Por norma o termo usa-se para fazer referência a computadores que são programados para aprender e mimetizar ações habitualmente realizadas por humanos. E sendo capazes de realizar ações antes desenvolvidas por seres humanos, o seu valor para a ciência e para a humanidade, de uma forma geral, é incalculável.

A verdade é que a IA pode ser usada numa miríade de atividades e muitas vezes beneficiamos desta capacidade de aprendizagem das máquinas quase sem dar por ela. Por exemplo, quando a Netflix nos indica uma lista de conteúdos para assistir, fá-lo com base nas preferências que fomos revelando ao longo das interações que tivemos com aquela plataforma de streaming. Mas o alcance desta ferramenta vai muito além das nossas preferências enquanto meros consumidores de conteúdos. E a sua relevância começa a tornar-se mais séria, e mais sujeita a escrutínio, portanto, quando entramos o domínio da educação, da saúde, ou mesmo dos direitos humanos.

E já sabemos que o receio do desconhecido é normalmente o maior inimigo da aceitação de novas tecnologias. É por isso que convém desmistificar o que é a IA para não ceder à tentação fácil de recusa e até da acusação imediatista de ver as máquinas inteligentes como uma ameaça. É um facto que o controlo da IA deverá continuar a ser uma preocupação. Mas será a alternativa o simples descarte do benefício que a automação de processos pode gerar? Os benefícios que pode trazer a vários níveis, desde o ensino aos cuidados de saúde, passando pelo cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável e até dos direitos humanos?

É que é um facto que também beneficiamos de processos de IA na educação, quando sistematizadas e programadas as práticas de ensino que permitem fazer chegar o conhecimento a mais e mais variadas pessoas, em mais lugares do mundo, contribuindo até para dar cumprimento a algumas metas para o desenvolvimento sustentável, como é o caso da meta que procura assegurar o acesso a uma educação de qualidade e equitativa promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo de toda a vida.

Ao conhecermos melhor as heurísticas de decisão no processo de ensino, somos mais capazes de programar as máquinas para agir de forma mais adequadas e adaptadas à audiência, permitindo aos alunos aprenderem, em plataformas digitais, mais adaptadas ao seu contexto e até ao seu próprio ritmo de aprendizagem. E, nesse sentido, a IA tem muito a dar noutros domínios também, como é o caso da saúde: podemos traçar o perfil do paciente, compreender o tratamento mais adequado, acompanhar os resultados de uma profilaxia, tudo tendo por base o acesso a uma multiplicidade de fontes de informação nunca antes vista.

Com tanto para dar e ainda mais para explorar, porque não dar o benefício da dúvida à IA, permitindo-nos saber mais sobre o potencial destes agentes computacionais, que com base na informação fornecida são capazes de criar conhecimento e criar valor para a sociedade como um todo?