À medida que nos aproximamos das legislativas, a maioria absoluta ambicionada pelo PS vai-se tornando cada vez mais distante. Era expectável que a geringonça pudesse servir de impulso para António Costa disparar nas sondagens, mas tal não está a ocorrer. E é fácil perceber porquê.

Por um lado, a favorecer os socialistas, temos a eliminação da sobretaxa do IRS, a extinção da redução remuneratória dos funcionários públicos, o aumento do salário mínimo, os incrementos nas pensões, a continuação da redução do défice público e o aumento do emprego. Por outro lado, a penalizar os socialistas, temos as tragédias dos incêndios, o caso de Tancos, a falta de investimento público (incluindo no SNS), as polémicas com os professores e os enfermeiros, o problema na ADSE e os aumentos dos impostos indirectos. Aparentemente todas as sondagens indicam que, para os eleitores, os factos positivos superam os negativos, mas não o suficiente para garantir uma maioria absoluta ao PS. O que irá então acontecer?

Sem maioria, Costa tentará formular novos acordos com bloquistas e comunistas. O problema é que os resultadas das legislativas irão demonstrar que o PS é o único a beneficiar com a fórmula da geringonça. Posto isto, o PCP cairá fora e juntar-se-á ao PSD e ao CDS na oposição. Já o BE – que tem outras ambições políticas – estabelecerá um preço elevado para uma nova parceria: exigirá integrar o próximo governo, tutelando pastas que sempre ambicionou (Cultura e Ensino Superior). Não tenho dúvidas que Costa aceitará.

Se a economia mundial recuperar rapidamente da constipação que a Comissão Europeia e o FMI esperam para 2019 e 2020, então uma solução PS-BE, em princípio, não trará propriamente novidades face à realidade dos últimos anos (2016-2019) e poderá até ser duradoura. O mesmo já não se verificará, caso o abrandamento económico se transforme numa crise global (como alguns vaticinam); o que será sinónimo de choques externos para a economia portuguesa.

Numa conjuntura desfavorável, um executivo constituído por dois partidos com visões políticas opostas ficará congelado perante as adversidades – não haverá consenso para colocar no terreno medidas de fundo com vista a dar a volta à situação. Por outro lado, com o PCP fora da equação, então esse executivo também terá uma vida mais difícil nas ruas.

Em síntese, será o contexto internacional que irá ditar a longevidade do próximo governo. Se a conjuntura económica se degradar substancialmente, então teremos uma crise política no País e novas eleições cujos resultados serão completamente imprevisíveis.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.