A vida não está fácil para os governantes deste mundo: depois dos sarilhos da senhora May, agora é Merkel que nem governo consegue formar. Felizmente para eles que os governos não são empresas que têm que vender os seus produtos, senão estariam falidos num ápice. Ninguém quer comprar o que fazem, pelo contrário, todos se queixam dos seus produtos, que não têm qualidade; não são criativos nem inovadores, pois passam o tempo a aplicar receitas velhas de que toda a gente está farta; não sabem comunicar, e estão mais interessados em dizer mal dos outros do que bem de si, talvez porque não haja nada de bom a dizer.
A opinião geral dos seus “clientes” é que o que fazem não vale o custo dos recursos que usam, e por isso estão a perder base de apoio em favor de alternativas que ninguém conhece apenas porque os clientes estão fartos de pagar pão rançoso e água suja a preço de filé mignon e champanhe. Como empresas, é duvidoso que alguém fizesse um takeover de tal maneira a sua imagem está danificada. Só se safam porque nenhum de nós se pode recusar a pagar por um produto que nos faz mal à saúde. Os eleitores, esses, procuram um D. Sebastião: de acordo com observadores e comentadores políticos europeus, o partido com mais simpatizantes é o “Pissed Off.” Só que D. Sebastião foi de férias para Acapulco e nem quer saber de voltar.
Olhe-se para May. A negociar o Brexit e tem metade do governo a contravapor, no que é o seu principal mandato, e é torpedeada pelo seu próprio partido: Boris Johnson e Gove já lhe disseram publicamente para pôr a casa em ordem. Por falar em torpedeada, perdeu o ministro da Defesa e, dias depois, o do Desenvolvimento Internacional, que andava a falar com políticos israelitas sem dar cavaco. Pedem-lhe que despache mais dois: Green, pelos conteúdos do seu computador, e Boris, cujas declarações desastrosas podem fazer uma cidadã britânica ficar numa prisão iraniana mais cinco anos. Isto vai de tal maneira que o governo já ganhou a alcunha de “crazy gang cabinet” e diz-se que a União Europeia está a preparar um cenário com a queda de May em menos de um ano.
Na Alemanha ninguém quer estar no Governo com Merkel, pelo que um cenário provável é irmos para novas eleições – já entrámos no campo em que os políticos castigam os eleitores. Em Espanha não sabemos se estão na prisão traidores à constituição ou governantes de outro país.
Até em Portugal a vida é ingrata para os políticos – o nosso Guterres terá dito que falam bem dele só porque saiu da Pátria. Isto se bem que, da maneira como a coisa está, Portugal com a geringonça até parece um país normal.