As sondagens estão longe de ser uma ciência exata, mas tudo leva a crer que o PS não terá maioria absoluta nas eleições de domingo e que necessitará do apoio dos partidos da Esquerda, sobretudo do Bloco, para poder formar Governo. A sondagem que divulgamos nesta edição do JE vai neste sentido, mas indica também que a soma dos deputados do PS e do PCP poderia, em teoria, ser suficiente para uma maioria parlamentar, o que significa que a dependência de Costa face ao Bloco poderá ser relativizada.

A confirmarem-se as projeções e partindo do princípio de que os partidos chegam a acordo, podemos ter uma nova geringonça a dois ou a três, talvez até com lugares no Governo para mais do que um partido. Neste âmbito, será interessante constatar qual será a opção do PCP, dado que para os comunistas os últimos quatro anos não foram favoráveis, em termos eleitorais.

O que nos reserva esta nova geringonça? Diria que teremos tempos interessantes pela frente, no sentido que a célebre “maldição chinesa” confere à expressão.
Em primeiro lugar, a geringonça 2.0 será, provavelmente, menos harmoniosa do que a anterior. O PS será obrigado a governar mais à esquerda do que gostaria e ao mesmo tempo manter a prudência orçamental, o que, numa fase de abrandamento da economia, não será fácil. Por outro lado, esgotado o discurso sobre a troika e a “reposição de rendimentos”, o Governo socialista estará sob forte pressão dos sindicatos e terá cada vez mais dificuldade em justificar as falhas dos serviços públicos. A vitória do PS poderá revelar-se, assim, um presente envenenado e a estabilidade política não estará garantida, tal como referiu há dias o banco holandês ING.

À direita, Rui Rio poderá sair destas legislativas como o ‘derrotado vencedor’, que acabou por se sair melhor do que se esperava. Se conseguir um resultado “honroso” (em parte graças ao “voto útil”), Rio terá argumentos para esgrimir contra quem o quer apear após as eleições. E com os críticos afastados dos órgãos do partido e do Parlamento, poderá simplesmente ficar à espera que o poder lhe caia nas mãos.

Este caminho enfrenta, no entanto, duas incógnitas. A primeira é saber até que ponto um resultado na casa dos 26% a 28% será considerado “honroso” pelas bases do PSD. A segunda é se, nos próximos anos, o PSD não perderá cada vez mais terreno para a IL e outros partidos que disputam uma parte relevante do seu eleitorado tradicional, nomeadamente a franja urbana, culta e liberal que não se revê no discurso e no estilo de Rio.