A qualidade de arguido parece ter-se transformado num dos pré-requisitos para se ser presidente de um dos três grandes em Portugal. Se Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira já têm a marca de arguido em processo penal nos seus curricula, Bruno de Carvalho, substancialmente mais novo, apenas conheceu, pelo menos para já, esse qualificativo no âmbito do processo disciplinar que o Conselho de Disciplina da FPF instaurou na sequência do chamado “caso do túnel”.

Independentemente desta situação, não devemos esquecer que o arguido é considerado inocente até trânsito da sentença em julgado da sentença, pelo que, ao contrário do que muitas vezes se parece querer afirmar, só na praça pública é que os arguidos são condenados antes do julgamento.

Não obstante, ninguém pode ignorar que a conduta dos presidentes dos três grandes está longe de ser a mais adequada, mesmo que aquela nunca tenha sido nem venha, no futuro, a ser considerada pelos tribunais como ilícita. Destes homens esperar-se-ia que fossem líderes, condutores de pessoas, exemplos capazes de transmitir aos associados dos clubes a que presidem valores elevados, uma ética e uma moral à prova de bala. Ao invés, eles atuam de forma incendiária, incitam ao ódio e à violência, utilizam as redes sociais e os meios de comunicação social para transmitir mensagens que encorajam os associados dos seus clubes a verem nos seus rivais não concorrentes, mas verdadeiros inimigos, que é necessário derrubar seja a que custo for.

O futebol é nos nossos dias uma indústria que vale milhões. Compreende-se, por isso, que se esteja longe do amadorismo que pautava a atuação dos dirigentes desportivos em tempos que já lá vão. O que não se entende, nem se aceita, é que os atuais profissionais do dirigismo desportivo ponham em causa os valores mais nobres que presidem à atividade desportiva, contribuindo decisivamente para a alienação dos seus consócios.

O Benfica, o Porto e o Sporting têm uma enorme responsabilidade na sociedade portuguesa e para com a sociedade portuguesa, movimentam multidões, exercem uma enorme influência sobre jovens e menos jovens, deveriam transmitir valores e princípios, mas não o fazem. Triste a atual situação do desporto nacional em que as crianças são ensinadas, desde tenra idade, a odiar outros jovens só porque não partilham os seus ideais clubísticos.

Longe vão os tempos em que benfiquistas, sportinguistas e portistas, independentemente do amor ao clube do seu coração, colocavam outros valores acima da rivalidade, partilhando espaços e interesses, forjando amizades que falavam mais alto do que as simples disputas domingueiras, que rapidamente eram esquecidas.

Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho estão longe de ser exemplos que queiramos seguir, sendo difícil identificar claramente um melhor do que os demais, que se possa distinguir pela sua conduta elevada ou moral inatacável. No que aos presidentes dos três grandes diz respeito, venha o diabo e escolha.